Livro em
estudo: Nos Bastidores da Obsessão – Editora FEB - 1970
Autor: Espírito
Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco
A034 – Cap. 13
– Solução inesperada – Segunda Parte
Receava a nobre senhora não suportar
as últimas dores. Encontrava-se enferma, e embora não desfalecesse na fé, em
circunstância alguma, acusava-se cansada, receosa, desalentada...
Vencida por choro convulsivo,
apoiou-se no intimorato espírita e, sob a sua aura fortificante, dele recebeu a
energia revigorante de que necessitava. Paulatinamente foi-se acalmando,
recompondo-se.
Além do esposo nesse estado de
desespero, Marta recolhera-se ao quarto, possessa pelo ódio surdo, recusando-se
a sair. Mesmo sabendo do que acontecera ao pai, reagia contra ele, continuando
na tônica da revolta.
Depois de alguns instantes de
reflexão, Petitinga convidou-nos a acompanhá-lo à peça em que Marta se
demorava, e, com a autoridade moral que o aureolava, saudou-a. Conquanto não
fosse correspondido, o seu verbo correto advertiu-a:
— Marta, minha filha, o dever da
solidariedade induz-me a procurá-la, em nome de sua aflita mãe e do seu pai
agonizante... Não nos animam quaisquer propósitos de invectivá-la, tecendo
considerações injuriosas ou censuráveis aos últimos acontecimentos que abalaram
este lar. Nutrimos o são desejo de lutar para que não se acumulem danos sobre
novos danos numa avalanche de gravames mais desesperadores, cada vez piores...
Você sabe por experiência pessoal que a morte é entrada na vida, reexame de
atos, reencontro com a consciência, mesmo quando esta jaz entorpecida pela ignorância
ou anestesiada pelo crime... Todos sabemos que a vida nos dá o de que temos
necessidade para o nosso progresso espiritual e, consequentemente, pai, mãe,
familiares e amigos são peças importantes, indispensáveis para a nossa
evolução. Como nos comportamos em relação a eles, oneramo-nos ou não de
responsabilidades negativas novas, que atiramos na direção do futuro... Por
isso e por muitas outras razões, você não se pode manter na posição em que se
refugia agora, na qual se vem sustentando até aqui...
A filha mais velha dos Soares
continuava silenciosa, emitindo raios de surda dólera refreada a custo.
Perfeitamente senhor da situação,
Petitinga propôs:
- Se você nos permite, filha,
aplicar-lhe-emos passes magnéticos para ajudá-la na difícil decisão e sustentá-la
nas provas que lhe advirão como resultado da sua teimosia. Oraremos juntos,
encontraremos Jesus que nos oferecerá braço amigo para prosseguir e venceremos
o caminho da reforma íntima sob o divino amparo.
Vencendo o mórbido silêncio, Marta
rugiu:
— Agradeço o seu interesse.
Encontro-me muito bem e estaria melhor se não fosse perturbado o meu sossego
com a sua presença...
Demonstrando a perícia em lidar com
obsessos e obsessores, o então Presidente da União Espírita Baiana, muito
calmo, respondeu:
— Deixá-la-íamos no sossego a que
você se refere, caso as suas atitudes não fossem fatores de perturbação e
desordem neste lar. Aqui estamos em nome de sua genitora, que arca com o ônus
de pesados sofrimentos, exercendo a função de mãe e pai para que o lar não
padeça miséria econômica nem moral. Onde o seu dever de filha, de irmã, que
tudo recebeu e nada retribui? Já que você não ajuda, não tem qualquer direito
de criar dificuldades. Você é adulta e tem responsabilidades perante a Vida.
Não deslustre mais a sua consciência, teimando em perseverar no erro
espontaneamente aceito. Ajude-nos, filha, a ajudá-la.
— Não necessito do senhor. Eu tenho
os meus Guias... Poderosos, eles são as forças atuantes da Natureza;
indestrutíveis, governam o mundo; rigorosos, sabem fazer e desfazer...
— E porque não lhes roga auxílio
para ser útil e nobre, socorrer e amparar quem lhe ofereceu a roupa carnal?
Porque não a seguraram ontem, impedindo o desfecho deplorável que a sua atitude
violenta gerou?
— Porque eles são violentos,
vingadores e conseguem imediatamente o que a tolerância e o amor não lobrigam.
Estivesse a mim entregue a solução dos problemas daqui e já os teria resolvido
desde há muito... Crê o senhor que eu não me sinto magoada, verificando que as
forças de que sou possuidora, na minha casa, não merecem consideração? Tenho
clientes que lograram resultados muito bons com os meus recursos e os meus
Guias me prometem: ou o meu povo se lhes submete ou eles os acabam...
— Tais Espíritos, minha filha, não
são Guias: são cegos arrastando cegos ao abismo em que todos se precipitarão.
Abastardados pela ignorância demoram-se na animalidade, exigindo retribuições
materiais por se comprazerem nos fluídos densos e grosseiros de que se não
podem libertar. Odiando-se a si mesmos, estabelecem o clima do ódio e,
revoltados nos recônditos do ser, espalham rebeldia, ameaçadores, para
governarem sob as nuvens sombrias do medo... Fracos, procuram dividir para
imperar... Dizendo-se temíveis, vivem temerosos, fugindo à consciência e descendo
cada vez a vexames maiores nos quais se enredem, infelizes. Não, filha, não são
poderosos, nem indestrutíveis, nem rigorosos; são primitivos que a vampirizam e
se nutrem do plasma mental dos que, como você, caem presas fáceis dos seus
ardis e mancomunações.
— Pois saiba que eles podem fazer o
que os senhores jamais conseguiriam. Libertam as vítimas da obsessão pela
força, arrancando os seus perseguidores com os poderes que possuem. E os
senhores, que fazem?
— A violência não liberta e a força
não convence. A vitória do poder da força é ilusório, porque ela mesma gera a
força da reação que a destrói. O que você diz ser libertação em caso de
obsessão, invariavelmente são ardis de que se utilizam os benfeitores com os
agressores: vivendo o mesmo tônus vibratório, combinam uma libertação falsa,
dando a sensação de liberdade àqueles que lhes estão nas tenazes, para voltarem
depois mais violentos, perturbados e perturbadores... Outras vezes investem com
recursos próprios de que se utilizam, e, odientos, apavoram os outros
perseguidores, transferindo o pagamento do enredado na obsessão para clima mais
danoso e mais difícil, portanto... Não se iluda: a sombra sobre a sombra não
produz claridade. Uma gota de luz vence a treva; todavia, a abundância da
segunda nada consegue em relação à primeira... A impiedade nada produz. A única
força eficiente é a que se deriva das reservas morais, a do espírito superior,
a que produz a emissão vibratória de alta frequência, que atua como força
realmente poderosa, capaz de influir decisivamente na esfera das causas e,
pois, consequentemente, no campo dos efeitos.
«Recorde-se de Jesus ante o
endemoninhado Gadareno; o moço que sofria de ataques; as febres da sogra de
Pedro; o cego de Jericó; o paralítico de Cafarnaum.... seria necessário ir
adiante? Lembre-se da Sua força diante dos maus, dos falsos poderosos da Terra.
O amor é o pão da vida e, como escasseia, a esperança da Humanidade cambaleia
nas sombras da violência temporária, pois que o Reino do Amor logo advirá.
«Unamo-nos desde já, minha filha, no
mesmo ideal de serviço, e liberte suas forças psíquicas das constrições que a
infelicitam, oferecendo-as a Jesus, enquanto urge o tempo, iniciando vida nova
a seu próprio benefício. Não olvide, neste momento, que o seu genitor agonizante
entre a vida e a morte, ou como também poderíamos dizer entre a morte e a vida
nova, em partindo, poderá deixar em você pesados crepes de remorso, de
arrependimento tardio, improdutivo, inquietador. Agora é o momento: é tempo de
reabilitar-se... Saia da noite e rume na busca do dia. Ore e inunde-se de
reconforto. Não transfira o seu instante de felicidade... Iremos convidar sua
mãe a acompanhar-nos na oração e dê começo, já agora, à sua ressurreição, a um
renascimento espiritual... »
O poder dos argumentos e a força
moral do velho doutrinador acalmaram a atormentada e, a um sinal, dispusemo-nos
a buscar Dona Rosa, que esperava do lado de fora, sendo introduzida no recinto
em que estávamos.
Solicitado à oração, procurei
erguer-me ao Senhor e suplicar-Lhe o concurso. Enquanto isso, o Apóstolo da
caridade espiritual ministrava recursos fluídicos e magnéticos na sensitiva
comprometida. Depois da cuidadosa operação espiritual, levantou-se e,
visivelmente emocionada, agradeceu, comprometendo-se a visitar o genitor e
meditar nas novas diretrizes que se lhe deparavam naquelas dolorosas
circunstâncias.
O poder da oração! Quando os homens
compreenderem e se utilizarem realmente dos recursos da prece, em muito se
modificarão os cenários da vida moral na Terra!...
Cumpridos os deveres no lar dos
Soares, demandamos o Hospital do Pronto Socorro para uma visita ao Sr. Mateus,
considerando ser aquele o dia permitido. Conquanto se encontrasse em repouso
absoluto, em câmara separada, Petitinga conseguiu do médico de plantão, com
quem mantinha relações de amizade, permissão para orar em silêncio junto ao
leito do paciente, no que foi atendido.
Conforme descrevera o médico amigo
da família, o estado do pai de Mariana era deplorável. A respiração
entrecortada por esgares dolorosos, as marcas da paralisia de todo um lado do
corpo, denotavam a gravidade do problema.
Embora compungido, Petitinga,
tranquilo, recolheu-se em oração, no que o acompanhamos silenciosamente.
Transcorridos alguns minutos, retiramo-nos, fiéis ao compromisso de evitar
perturbar o enfermo.
Já na rua o admirável sensitivo
esclareceu-nos que notara a presença de Saturnino e a do Irmão Glaucus que ali
estavam amparando o paciente e o assistindo, tendo registrado a intuição de que
ele se recuperaria paulatinamente, através do tempo. Aquele era um sublime
recurso de que se utilizava a Lei para ajudar o ancião temperamental na
construção da própria felicidade eterna...
Não havia como duvidar da Divina
Providência!
QUESTÕES
PARA ESTUDO
1
– Conforme vimos no estudo anterior, depois da advertência de D. Rosa para a
filha Marta, pedindo que parasse com suas práticas espirituais inferiores, ela
avançou sobre a mãe. O Sr. Mateus, diante da cena e por tomar também uma
atitude agressiva, sofreu uma embolia cerebral e suas feridas se reabriram...
Agora, novamente no hospital, tinha prognóstico desfavorável.
Que
práticas espirituais Marta executava? Por que eram inferiores?
2
– De que modo as entidades que cercavam Marta realizam “trabalhos espirituais”?
Eles poderiam se sustentar no longo prazo?
Bom
estudo a todos!!
Equipe
Manoel Philomeno
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