sábado, 4 de outubro de 2014

Mural reflexivo: Os seus talentos

murrefloutblogOS SEUS TALENTOS

Redação do Momento Espírita

    Os homens são diferentes em talentos e habilidades.

    Um gênio em matemática talvez tenha dificuldade com língua portuguesa.

    Um financista brilhante pode ser um administrador de recursos humanos medíocre.

    A grande empresária quiçá falhe como mãe.

    Alguém dança maravilhosamente, mas não sabe cantar.

    Outrem escreve com elegância, mas não consegue falar em público.

    A força de uma sociedade reside na diferença existente entre seus membros.

    É preciso aprender a respeitar e a apreciar as opiniões alheias.

    Da divergência bem administrada surgem a reflexão e o aprimoramento.

    Tantas diferenças entre os homens resultam das opções que fizeram ao longo de suas existências.

    Sendo todos dotados de livre-arbítrio pela Divindade, cada qual escolheu um caminho.

    Entre erros e acertos, experiências foram acumuladas e talentos, desenvolvidos.

    Deus criou os Espíritos perfectíveis, mas não perfeitos.

    Assim, é natural que eles, por vezes, errem.

    Constitui tolice imaginar que alguém aprende sem nunca errar.

    É como esperar que uma criança ande sem jamais tropeçar e cair.

    Então, o erro não é exatamente um escândalo perante as Leis Divinas.

    Apenas é necessário ser humilde para reconhecer o equívoco.

    E ter coragem para assumir a responsabilidade e reparar os danos.

    Mas de todo embate, mesmo permeado de equívocos, surge a experiência.

    Sempre se está amadurecendo e aprendendo.

    Evidentemente, os equívocos devem ser reparados.

    Mas a criatura sempre vê acrescidos seus recursos.

    Muitos Espíritos atravessam séculos entre equívocos e  desatinos.

    As violações da Lei Divina registram-se na consciência de cada ser.

    Enquanto a reparação não ocorre, o Espírito permanece em desequilíbrio.

    Por mais que aparente tranquilidade, experimenta desconforto íntimo, fobias e bloqueios psicológicos.

    Mas sempre soa o instante em que, cansado de fingir e sofrer, ele resolve encarar a própria realidade íntima.

    Então, decide trabalhar no bem.

    Dá um basta no egoísmo e se interessa pelo próximo.

    Vislumbra a beleza existente no adágio bíblico:

    O amor cobre a multidão de pecados. (*)

    Ansioso de paz, enamora-se da prática das mais sublimes virtudes.

    Dotado de todos os talentos que desenvolveu ao longo do tempo, torna-se um dedicado agente do progresso.

    Assim agindo, repara os erros do passado e se prepara para as etapas superiores da vida imortal.

    Se você deseja paz, reflita sobre o que está fazendo com seus talentos.

    Tudo o que você possui pode e deve ser utilizado na construção de um mundo melhor.

    A fortuna pode gerar empregos, amparar a miséria e secar muitas lágrimas.

    A inteligência possui o condão de melhorar as condições físicas e morais do planeta.

    Se você dispõe do dom da palavra, utilize-o para disseminar ideias de solidariedade e pureza.

    Nos círculos em que se movimenta, enalteça o trabalho, a honestidade e a compaixão.

    Dê exemplos de conduta reta e digna.

    Seja um pai responsável e amoroso, um esposo dedicado e fiel, um patrão justo e bom.

    Quaisquer que sejam os seus talentos, utilize-os para promover o bem.

    Eles são o resultado das experiências que você viveu.

    E constituem os recursos de que dispõe para se tornar um homem pleno de paz e bem-estar.

    Pense nisso.

(*) Pedro em sua primeira epístola 4:8.

(Redação do Momento Espírita. Disponível no livro Momento Espírita, v. 6, ed. FEP.  http://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=4162&stat=0)

Frase rápida, reflexão nem tanto…

umarosacorderosaAge e serve sempre

       Age e serve sempre.
       Se ainda não consegues entender o valor do trabalho, observa a tristeza dos carros em desuso, quando entregues ao abandono.

(De “Espera servindo”, de Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel)

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

NECESSIDADE DA ENCARNAÇÃO

(Sociedade Espírita de Sens – Médium: Sr. Percheron)


R.E. , fevereiro de 1864, p. 72 

Quis Deus que o Espírito do homem fosse ligado à matéria para sofrer as vicissitudes do corpo, com o qual se identifica a ponto de iludir-se e de o tomar por si mesmo, quando não passa de sua prisão passageira; é como se um prisioneiro se confundisse com as paredes da cela. Os materialistas são muito cegos por não perceberem seu erro, porquanto, se quisessem refletir um pouco seriamente, veriam que não é pela matéria do corpo que se podem manifestar; concluiriam que, desde que a matéria desse corpo se renova continuamente, como a água de um rio, não é senão pelo Espírito que podem saber que são sempre eles mesmos.

Suponhamos que o corpo de um homem que pesasse sessenta quilos assimile, para a reparação de suas forças, um quilo de nova substância por dia, a fim de substituir a mesma quantidade de antigas moléculas de que se separa e que cumpriram o papel que deviam desempenhar na composição de seus órgãos; assim, ao cabo de sessenta dias a matéria desse corpo estaria renovada. Nesta hipótese, cujos números podem ser contestados, mas verdadeira em princípio, a matéria do corpo renovar-se-ia seis vezes por ano; portanto, o corpo de um homem de vinte anos já se teria renovado cem vezes; aos quarenta, duzentas e quarenta vezes; aos oitenta, quatrocentas e oitenta vezes. Mas o vosso Espírito se terá renovado? Não, pois tendes consciência de que sois sempre vós mesmos. É, pois, o vosso Espírito que constitui o vosso eu, e segundo o qual vós vos manifestais, e não o vosso corpo, que não passa de matéria efêmera e mutável.

Os materialistas e os panteístas dizem que as moléculas desagregadas depois da morte do corpo retornam à massa comum de seus elementos primitivos, o mesmo se dando com a alma, isto é, com o ser que pensa em vós; mas que sabem eles disso? Há uma massa comum de substância que pensa? Jamais o demonstraram, e é o que deveriam ter feito antes de afirmar. Da parte deles não passa de uma hipótese. Ora, se durante a vida do corpo as moléculas se desagregam centenas de vezes, não obstante o Espírito seja sempre o mesmo e conserve a consciência de sua individualidade, não é mais lógico supor que a natureza do Espírito não é passível de desagregar-se? Por que, então, se dissolveria após a morte do corpo, e não antes?

Após esta digressão, dirigida aos materialistas, volto ao meu assunto. Se Deus quis que suas criaturas espirituais fossem momentaneamente unidas à matéria, é, repito, para as fazer sentir e, a bem dizer, para que sofressem as necessidades que a matéria exige de seus corpos, no que respeita ao seu sustento e conservação. Dessas necessidades nascem as vicissitudes que vos fazem sentir o sofrimento e compreender a comiseração que deveis ter por vossos irmãos na mesma posição. Esse estado transitório é, pois, necessário ao adiantamento do vosso Espírito, que, sem isto,ficaria estagnado. As necessidades que o corpo vos faz experimentar estimulam os vossos Espíritos e os forçam a buscar os meios de as prover; desse trabalho forçado nasce o desenvolvimento do pensamento. Constrangido a presidir aos movimentos do corpo para os dirigir, visando a sua conservação, o Espírito é conduzido ao trabalho material e daí ao trabalho intelectual, necessários um ao outro, pois a realização das concepções do Espírito exige o trabalho do corpo e este não pode ser feito senão sob a direção e o impulso do Espírito. Tendo assim o Espírito adquirido o hábito de trabalhar, e a ele constrangido pelas necessidades do corpo, o trabalho, por sua vez, se lhe torna uma necessidade; e quando, desprendido de seus laços, não tem mais de pensar na matéria, pensa em trabalhar em si mesmo para o seu adiantamento.

Agora compreendeis a necessidade para o vosso Espírito de estar ligado à matéria durante uma parte de sua existência, para não ficar estacionário.

Teu pai,
Percheron, assistido pelo Espírito Pascal

Observação – A estas observações, perfeitamente justas,acrescentaremos que, trabalhando para si mesmo, o Espírito encarnado trabalha para a melhoria do mundo em que habita, assim ajudando a sua transformação e o seu progresso material, que estão nos desígnios de Deus, de quem é o instrumento inteligente. Na sua sabedoria previdente, quis a Providência que tudo se encadeasse na Natureza; que, todos, homens e coisas, fossem solidários. Depois, quando o Espírito houver realizado a sua tarefa e estiver suficientemente adiantado, gozará do fruto de suas obras.

ESTUDOS SOBRE A REENCARNAÇÃO
(Sociedade Espírita de Paris – Médium: Srta. A. C.)

I

Limites da reencarnação

A reencarnação é necessária enquanto a matéria domina o Espírito. Mas, desde que o Espírito encarnado chegou a dominar a matéria e a anular os efeitos de sua reação sobre o moral,a reencarnação não tem mais nenhuma utilidade nem razão de ser. Com efeito, o corpo é necessário ao Espírito para o trabalho progressivo até que, tendo chegado a manejar este instrumento à vontade, a lhe imprimir sua vontade, o trabalho esteja realizado. Então lhe é necessário outro campo para a sua marcha, ao seu adiantamento para o infinito; é-lhe necessário um outro círculo de estudos, onde a matéria grosseira das esferas inferiores seja desconhecida. Tendo se depurado e experimentado suas sensações, na Terra ou em globos análogos, está maduro para a vida espiritual e seus estudos. Havendo-se elevado acima de todas as sensações corporais, não mais tem nenhum desses desejos ou necessidades inerentes à corporeidade: é Espírito e vive pelas sensações espirituais, que são infinitamente mais deliciosas do que as mais agradáveis sensações corporais.

II

A reencarnação e as aspirações do homem

As aspirações da alma conduzem à sua realização, e esta realização se cumpre na reencarnação, enquanto o Espírito está no trabalho material. Explico-me. Tomemos o Espírito em seus primórdios na carreira humana: estúpido e bruto, sente, contudo, a chama divina em si, pois que adora um Deus, que materializa consoante a sua materialidade. Nesse ser, ainda vizinho do animal,há uma aspiração instintiva, quase inconsciente, para um estado menos inferior. Começa por desejar satisfazer seus apetites materiais e inveja os que vê num estado melhor que o seu; assim, numa encarnação seguinte, ele mesmo escolhe, ou, antes, é arrastado a um corpo mais aperfeiçoado; e sempre, em cada uma de suas existências, deseja um melhoramento material; jamais se sentindo satisfeito, quer subir sempre, porque a aspiração à felicidade é a grande alavanca do progresso.

À medida que as sensações corporais se tornam maiores, mais aperfeiçoadas, suas sensações espirituais também despertam e crescem. Então começa o trabalho moral e a depuração da alma se une à aspiração do corpo para chegar ao
estado superior.

Esse estado de igualdade de aspirações materiais e espirituais não é de longa duração; logo o Espírito se eleva acima da matéria e suas sensações não mais podem ser satisfeitas por ela; necessita mais; precisa de melhor; mas aí, tendo sido o corpo levado à perfeição sensitiva, não pode acompanhar o Espírito que, então, o domina e dele se desprende cada vez mais, como de um instrumento inútil; direciona todos os seus desejos, todas as suas aspirações para um estado superior; sente que as necessidades corporais que lhe eram um motivo de felicidade em suas satisfações, não são mais que um estorvo, um aviltamento, uma triste necessidade, da qual aspira libertar-se para gozar, sem entraves, de todas as venturas espirituais que pressente.

III
Ação dos fluidos na reencarnação

Sendo os fluidos os agentes que movimentam o nosso aparelho corporal, também são eles os elementos de nossas aspirações, pois há fluidos corporais e fluidos espirituais, tendendo todos a elevar-se e a unir-se a fluidos da mesma natureza. Esses fluidos compõem o corpo espiritual do Espírito que, na condição de encarnado, age por meio deles sobre a máquina humana que lhe compete aperfeiçoar, pois tudo é trabalho na Criação, tudo concorre para o progresso geral.

O Espírito tem livre-arbítrio, e sempre busca o que lhe é agradável e o satisfaz. Se for um Espírito inferior e material, procura suas satisfações na materialidade e, então, dará impulso aos seus fluidos corporais, que dominarão, mas tenderão sempre a crescer e elevar-se materialmente. Assim, as aspirações desses encarnados serão materiais e, voltando à condição de Espírito, buscará nova encarnação, em que satisfará suas necessidades e desejos materiais; porque, notai bem, a aspiração corporal não pode pedir, como realização, senão uma nova corporeidade, ao passo que a aspiração espiritual não se prende senão às sensações do Espírito. A isto será solicitado por seus fluidos, que deixou que se materializassem; e como no ato da reencarnação os fluidos agem para atrair o Espírito no corpo que foi formado, havendo, portanto,atração e união dos fluidos, a reencarnação se opera em condições que darão satisfação às aspirações de sua existência precedente.

Há fluidos espirituais como fluidos materiais, se estes dominarem; mas, então quando o espiritual sobreleva o material, o Espírito, que julga de modo diferente, escolhe ou é atraído por simpatias diferentes; como necessita de depuração e a esta só chega pelo trabalho, as encarnações escolhidas lhe são mais penosas porque, depois de haver dado supremacia à matéria e a seus fluidos, deve constrangê-la, lutar contra ela e dominá-la. Daí essas existências tão dolorosas e que, muitas vezes, parecem injustamente infligidas a Espíritos bons e inteligentes. Estes fazem sua última etapa corporal e entram, ao sair deste mundo, nas esferas superiores, onde suas aspirações superiores encontrarão a sua realização.

IV

As afeições terrenas e a reencarnação

O dogma da reencarnação indefinida encontra oposições no coração do encarnado que ama, porquanto, em presença dessa infinidade de existências, produzindo novos laços em cada uma delas, ele pergunta com assombro em que se tornam as afeições particulares, e se estas não se fundem num único amor geral, o que destruiria a persistência da afeição individual. Ele se pergunta se esta afeição individual não é apenas um meio de adiantamento e então o desânimo se insinua em sua alma, porque a verdadeira afeição experimenta a necessidade de um amor eterno, sentindo que ela não se cansará jamais de amar. O pensamento desses milhares de afeições idênticas lhe parece uma impossibilidade,mesmo admitindo faculdades maiores para o amor.

O encarnado que estuda seriamente o Espiritismo, sem idéia preconcebida para um sistema, de preferência a outro, sente-se arrastado à reencarnação pela justiça que resulta do progresso e do avanço do Espírito em cada nova existência; mas quando o estuda do ponto de vista das afeições do coração, duvida e se assusta, mau grado seu. Não podendo pôr de acordo esses dois sentimentos, diz a si mesmo que aí ainda há um véu a levantar e seu pensamento em trabalho atrai as luzes dos Espíritos para conciliar o coração com a razão.

Já o disse antes: a encarnação pára onde a materialidade é anulada. Mostrei como o progresso material a princípio havia aperfeiçoado as sensações corporais do Espírito encarnado; como o progresso espiritual, vindo a seguir, tinha contrabalançado a influência da matéria, subordinando-a enfim à sua vontade e que,chegado a esse grau de domínio espiritual, a corporeidade perdera sua razão de ser, pois o trabalho estava realizado.

Examinemos agora a questão da afeição sob os seus dois aspectos, material e espiritual.

Antes de tudo, o que é a afeição, o amor? Ainda a atração fluídica, atraindo um ser para outro, unindo-os num mesmo sentimento. Essa atração pode ser de duas naturezas diferentes, já que os fluidos são de duas naturezas. Mas para que a afeição persista eternamente, é preciso que seja espiritual e desinteressada; são precisos abnegação, devotamento e que nenhum sentimento pessoal seja o móvel deste arrastamento simpático. Desde que nesse sentimento haja personalidade, há materialidade. Ora, nenhuma afeição material persiste nos domínios do Espírito. Desse modo, toda afeição que não resulta senão do instinto animal ou do egoísmo, se destrói com a morte terrestre; é assim que seres que se dizem amados são esquecidos após pouco tempo de separação! Vós os amastes por vós, e não por eles, que não existem mais, pois os esquecestes e os substituístes; procurastes consolo no esquecimento; eles se vos tornam indiferentes, porque não tendes mais amor.

Contemplai a Humanidade e vede quão poucas são as afeições verdadeiras na Terra! Assim, não se devem admirar tanto da multiplicidade das afeições aí contraídas. São em minoria relativa, mas existem, e as que são reais persistem e se perpetuam sob todas as formas, primeiro na Terra, depois continuam no estado de Espírito, numa amizade ou num amor inalterável, que só faz crescer e se elevar cada vez mais.

Vamos estudar esta verdadeira afeição: a afeição espiritual.

A afeição espiritual tem por base a afinidade fluídica espiritual que, atuando só, determina a simpatia. Quando é assim, é a alma que ama a alma e essa afeição só toma força pela manifestação dos sentimentos da alma. Dois Espíritos unidos espiritualmente se buscam e tendem sempre a aproximar-se; seus fluidos são atrativos. Se estiverem num mesmo globo, serão impelidos um para o outro; se separados pela morte terrena, seus pensamentos se unirão na lembrança e a reunião far-se-á na liberdade do sono; e quando a hora de uma nova encarnação soar para um deles, procurará aproximar-se de seu amigo, entrando no que é a sua filiação material, e o fará com tanto mais facilidade quanto seus fluidos perispirituais materiais encontrarão afinidades na matéria corporal dos encarnados que deram à luz o novo ser. Daí um novo aumento de afeição, uma nova manifestação de amor. Tal Espírito amigo que vos amou como pai, vos amará como filho,como irmão ou como amigo, e cada um desses laços aumentará de encarnação em encarnação e se perpetuará de maneira inalterável quando, realizado o vosso trabalho, viverdes a vida do Espírito.

Mas esta verdadeira afeição não é comum na Terra e a matéria a vem retardar, anular-lhe os efeitos, conforme domine o Espírito. A verdadeira amizade, o verdadeiro amor, sendo espiritual, tudo que se refere à matéria não é de sua natureza e em nada concorre para a identificação material. A afinidade persiste,mas fica em estado latente até que, triunfando o fluido espiritual, o progresso simpático se efetue novamente.

Em síntese, a afeição espiritual é a única resistente no domínio do Espírito. Na Terra e nas esferas do trabalho corporal, concorre para o avanço moral do Espírito encarnado que, sob a influência simpática, realiza milagres de abnegação e de devotamento aos seres amados. Aqui, nas moradas celestes, ela é a completa satisfação de todas as aspirações e a maior felicidade que o Espírito possa desfrutar.

V

O progresso entravado pela reencarnação indefinida

Até aqui a reencarnação tem sido admitida de maneira muito prolongada; não se pensou que esse prolongamento da corporeidade, embora cada vez menos material, acarretava necessidades que deviam atrasar o progresso do Espírito. Com efeito, admitindo a persistência da geração nos mundos superiores, se atribuem ao Espírito encarnado necessidades corporais, dão-lhe deveres e ocupações ainda materiais, que o sujeitam e detêm o impulso dos estudos espirituais. Qual a necessidade desses entraves? Não pode o Espírito gozar das alegrias do amor sem sofrer as enfermidades corporais? Mesmo na Terra, esse sentimento existe por si mesmo, independente da parte material do nosso ser; por mais raros que sejam, há exemplos suficientes para provar que deve ser sentido, de modo mais geral, entre os seres mais espiritualizados.

A reencarnação proporciona a união dos corpos; o amor puro, apenas a união das almas. Os Espíritos se unem segundo afeições iniciadas em mundos inferiores, e trabalham juntos por seu progresso espiritual. Têm uma organização fluídica totalmente diferente da que era conseqüência de seu aparelho corporal, e seus trabalhos se exercem sobre os fluidos, e não sobre os objetos materiais. Vão a esferas que, também, realizaram seu período material e cujo trabalho humano ensejou a desmaterialização, esferas que, chegadas ao apogeu de seu aperfeiçoamento, também passaram por uma transformação superior que as torna apropriadas a experimentar outras modificações, mas num sentido inteiramente fluídico.

Agora compreendeis a imensa força do fluido, força que mal podeis constatar, mas que não vedes nem apalpais. Num estado menos pesado ao em que estais, tereis outros meios de ver,tocar, trabalhar esse fluido, que é o grande agente da vida universal. Por que, então, o Espírito ainda teria necessidade de um corpo para m trabalho que está fora das apreciações corporais? Dir-me-eis que esse corpo estará em relação com os novos trabalhos que o Espírito deverá realizar; mas, levando-se em conta que esses trabalhos serão completamente fluídicos e espirituais nas esferas superiores, por que lhe dar o embaraço das necessidades corporais, uma vez que a reencarnação determina sempre, como já disse,geração e alimentação, isto é, necessidades da matéria a satisfazer e, em contrapartida, entraves para o Espírito? Compreendei que o Espírito deve ser livre em seu vôo para o infinito; compreendei que, tendo saído das fraldas da matéria, aspira, como a criança, a marchar e a correr sem ser detido pelo zelo materno, e que essas primeiras necessidades da primeira educação da criança são supérfluas para a criança crescida, e insuportáveis para o adolescente. Não desejeis, pois, ficar na infância; olhai-vos como alunos que fazem os últimos estudos escolares e se dispõem a entrar no mundo, a nele ter a sua posição e a começar trabalhos de outro gênero, que seus estudos preliminares terão facilitado.

O Espiritismo é a alavanca que, de um salto, erguerá ao estado espiritual todo encarnado que, querendo bem compreendêlo e o pôr em prática, se empenhará em dominar a matéria, a tornar-se seu senhor, a aniquilá-la; todo Espírito de boa vontade pode pôr-se em condição de passar, ao deixar este mundo, para um estado espiritual sem retorno terrestre. Falta-lhe apenas fé ou vontade ativa. O Espiritismo a oferece a todos os que o quiserem compreender em seu sentido moralizador.

Um Espírito protetor do médium

Observação – Esta comunicação não traz outra assinatura, o que prova que não é necessário ter tido um nome célebre na Terra para ditar boas coisas.

É de notar-se a analogia existente entre a comunicação de Sens, transcrita mais acima, e a primeira parte desta. Sem dúvida esta última é mais desenvolvida, mas a idéia fundamental sobre a necessidade da encarnação é a mesma. Citamos ambas para mostrar que os grandes princípios da doutrina são ensinados em toda parte e que é assim que se constituirá e se consolidará a unidade do Espiritismo. Essa concordância é o melhor critério da verdade. Ora, não passa despercebido que as teorias excêntricas e sistemáticas, ditadas por Espíritos pseudo-sábios são sempre circunscritas a um círculo estreito e individual, razão por que nenhuma prevaleceu, e também porque não são de temer, pois só têm uma existência efêmera, que se apaga como uma fraca luz ante a claridade do dia.

Quanto à última comunicação, seria supérfluo ressaltar seu alto alcance, como fundo e como forma. Pode resumir-se assim:

A vida do Espírito, considerada do ponto de vista do progresso, apresenta três períodos principais, a saber:

1o – Período material, no qual a influência da matéria domina a do Espírito. É o estado dos homens que se entregam às paixões brutais e carnais, à sensualidade; cujas aspirações são exclusivamente terrestres, ligados aos bens temporais, ou refratários às idéias espirituais;

2o – Período de equilíbrio, no qual as influências da matéria e do Espírito se exercem simultaneamente; em que o homem, embora submetido às necessidades materiais, pressente e compreende o estado espiritual; em que trabalha para sair do estado corporal;

Nesses dois períodos o Espírito está sujeito à reencarnação, que se realiza nos mundos inferiores e médios.

3o – Período espiritual, no qual tendo o Espírito dominado completamente a matéria, não mais necessita da encarnação, nem do trabalho material, pois seu trabalho é inteiramente espiritual; é o estado dos Espíritos nos mundos superiores.

A facilidade com que certas pessoas aceitam as idéias espíritas, das quais, parece, têm a intuição, indica que pertencem ao segundo período; mas entre este e os outros há uma multidão de graus que o Espírito transpõe tanto mais rapidamente quanto mais próximo do período espiritual. É assim que, de um mundo material como a Terra, pode ir habitar um mundo superior, como Júpiter, por exemplo, se seu avanço moral e espiritual for suficiente para o dispensar de passar pelos graus intermediários. Depende, pois, do homem deixar a Terra sem retorno, como mundo de expiação e prova para ele, ou a ela não voltar senão em missão.


quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Força

por Malu 

"Você não sabe a força que tem, até que sua única saída seja ser forte". Eu não sei quem disse isso, e nem mesmo se a pessoa que o fez usou exatamente essas palavras, mas o que sei de verdade é o que ela quis dizer. Você acha que já passou por todos os desafios, e que a Vida finalmente está te dando um brinde, uma trégua, um prêmio de consolação por todo o esforço empreendido até aqui, mas o quê?! Para espíritos em processo de aprendizado não existe trégua. Para aqueles que ultrapassaram todos os limites da Lei, não existe prêmio de consolação. Querendo ou não, você tem que passar por diversos momentos de aflição. Querendo ou não, você tem que experimentar a dor da dúvida, do medo, da perda e da ilusão; dores que embora seu coração se rebele e não queira aceitar, no fundo ele reconhece que elas são, somente, as consequências do seu passado de erros e viciações. E, assim, graças ao insight desse pensamento, o que há pouco era um coração rebelde, vai aquietando dentro do seu peito, deixando nascer a força que você julgava não ter. É aí, é nessa hora que você percebe que a mesma dor que te queima e te tortura, como fogo, também tem o poder de te purificar. E que mesmo com a sensação de ter a pele em chamas, você renasce uma, duas, três, várias vezes numa só vida, e é isso o que te faz CADA VEZ MAIS FORTE!

***

Explicação: Só pra constar, esse texto expressa a ideia da reencarnação e tudo o que ela envolve. Um tanto filosófico ele tenha ficado, talvez, mas é o que penso e sinto nesse momento. É isso. Beijos.

http://letras-e-suspiros.blogspot.com.br/2014/09/forca.html

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

CODIFICAÇÃO ESPÍRITA: Relação das Obras* de Allan Kardec

 

O LIVRO DOS ESPÍRITOS

1857

(Tradução de J. Herculano Pires)

Esta obra é o resultado  do ensino coletivo dos Espíritos, contém os princípios da Doutrina Espírita sobre a imortalidade da alma, a natureza dos Espíritos e suas relações com os homens, as leis morais, a vida presente, a vida futura e o porvir da Humanidade. Em sua primeira edição, estava dividida em 3 partes, contendo 501 perguntas. Em sua segunda edição, de 18 de março de 1860, já aparecia dividida em 4 partes, contendo as atuais 1019 questões.

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REVISTA ESPÍRITA

1858 à 1869

Jornal de Estudos Psicológicos

(com duas traduções no formato PDF, acione o título para fazer o download)

Publicação mensal composta de artigos e comunicações obtidas, principalmente, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Veja a definição deste periódico nas palavras do próprio Kardec: "O relato das manifestações materiais ou inteligentes dos Espíritos, aparições, evocações, etc, bem como todas as notícias relativas ao Espiritismo. - O ensino dos Espíritos sobre as coisas do mundo visível e do invisível; sobre as ciências, a moral, a imortalidade da alma, a natureza do homem e o seu futuro. - A história do Espiritismo na antiguidade; suas relações com o magnetismo e com o sonambulismo; a explicação das lendas e das crenças populares, da mitologia de todos os povos, etc..." .

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INSTRUÇÕES PRÁTICAS SOBRE AS MANIFESTAÇÕES ESPÍRITAS 

1858

Obra contendo diretrizes básicas para a prática da mediunidade, substituído em janeiro de 1861 pelo  O Livro dos Médiuns.

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O QUE É O ESPIRITISMO

1859

Esta obra contém sumária exposição dos princípios da Doutrina Espírita, um apanhado geral desta, permitindo ao leitor apreender o conjunto dentro de um quadro restrito. Em poucas palavras percebe-se o objetivo e pode julgar do seu alcance. Neste livro encontram-se, além disso, respostas às principais questões ou objeções que os novatos se sentem naturalmente propensos a fazer. É uma introdução ao conhecimento do Espiritismo que facilita um estudo mais aprofundado.

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O LIVRO DOS MÉDIUNS

1861

(Tradução de J. Herculano Pires)

Esta obra contém o ensino especial dos Espíritos sobre a teoria de todos os gêneros de manifestações, os meios de comunicação com o Mundo Invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os escolhos que se podem encontrar na prática do Espiritismo. Destina-se a guiar os que queiram entregar-se à prática das manifestações, dando-lhes conhecimento dos meios próprios para se comunicarem com os Espíritos. E um guia, tanto para os médiuns, como para os evocadores. É a continuação e o complemento de O Livro dos Espíritos. Trata da mediunidade, em seus aspectos teórico e experimental. Considerado o livro científico da doutrina espírita.

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O ESPIRITISMO NA SUA MAIS SIMPLES EXPRESSÃO

1862

Obra destinada  a popularizar os elementos da Doutrina Espírita. Pequeno livro para iniciantes no estudo doutrinário.

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VIAGEM ESPÍRITA EM 1862

1862

É o registro da viagem que o codificador do espiritismo fez em 1862. Esta obra mostra a situação do Espiritismo cinco anos após o lançamento de O Livro dos Espíritos. Contém instruções para a formação de grupos e sociedades espíritas, inclusive, um modelo de Estatuto elaborado pelo próprio codificador. Há, também, diversos discursos feitos por Kardec ao iniciante movimento espírita da França, quando ele percorreu suas principais cidades.

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RESPOSTA À MENSAGEM DOS ESPÍRITAS LIONESES POR OCASIÃO DO ANO NOVO

1862

Opúsculo que Kardec dirigiu ao movimento espírita de Lyon, sua cidade natal.

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O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

1864

(Tradução de J. Herculano Pires)

(no formato PDF para download)

Esta obra é para o uso de todos; cada qual pode dela tirar os meios de conformar sua conduta à moral do Cristo. Os espíritas nela encontrarão, além disso, as aplicações que lhes concernem mais especialmente. Graças às comunicações estabelecidas, de agora em diante, de maneira permanente, entre os homens e o mundo invisível, a lei evangélica, ensinada a todas as nações pelos próprios espíritos, não será mais letra morta, porque cada qual a compreenderá, e será incessantemente solicitado a pô-la em prática, pelos conselhos de seus guias espirituais. As instruções dos Espíritos são verdadeiramente as vozes do céu que vêm esclarecer os homens e convidá-los á prática do Evangelho. Em sua primeira edição, chamava-se "Imitação do Evangelho Segundo o Espiritismo", adquirindo o nome definitivo a partir da segunda edição de 1865.

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RESUMO DA LEI DOS FENÔMENOS ESPÍRITAS, OU PRIMEIRA INICIAÇÃO

1864

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COLEÇÃO DE COMPOSIÇÕES INÉDITAS

1865

Pequeno livro que contém trechos de "O Evangelho Segundo o Espiritismo".

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O CÉU E O INFERNO

1865

ou A Justiça Divina Segundo o Espiritismo

"As penas e gozos segundo o Espiritismo".

(Tradução de J. Herculano Pires e João Teixeira de Paula)

É um detalhamento da quarta parte de "O Livro dos Espíritos". Traz o aprofundamento de alguns conceitos cristãos, segundo a ótica espírita: A vida após a morte, o Céu, o Inferno, o Purgatório e a Justiça Divina.

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COLEÇÃO DE PRECES ESPÍRITAS

1865

Obra feita a partir do cap. XXVIII de "O Evangelho Segundo o Espiritismo".

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ESTUDO ACERCA DA POESIA MEDIANÍMICA

1867

Coletânea de poesias recebidas pelo médium Vavasseur, em que Kardec coloca seus comentários e interpretações.

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CARACTERES DA REVELAÇÃO ESPÍRITA

1868 

Obra que contém trechos extraídos da Revista Espírita.

Encontra-se inserido, também, no capítulo I, do livro A Gênese.

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A GÊNESE

1868

os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo

Tradução e comentários por

Carlos de Brito Imbassahy

ao pé da letra do original da 3ª edição de 1868.

Esta obra é um passo a mais adiante nas consequências e aplicações do Espiritismo. Portanto, como indica seu título, tem por objeto o estudo de três pontos diversamente interpretados e comentados até nossos dias: A gênese, os milagres e as predições, na relação com as leis novas que decorrem da observação dos fenômenos espíritas. Obra de caráter científico e filosófico, é dividida em 2 partes:

  • A primeira, detalha a criação tanto material quanto orgânica e espiritual;

  • a segunda parte trata de Jesus, dos milagres e das predições.

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Catálogo Racional das Obras para se Fundar uma Biblioteca Espírita

1869

Último livro escrito e publicado por Allan Kardec. Esta obra surgiu em março de 1869 e foi lançado no mesmo mês em que o Mestre Lionês partiu para a pátria espiritual.

Neste catálogo em relação as Obras Contra o Espiritismo Kardec escreveu esta nota:
Proibir um livro é dar mostras de que o tememos. O Espiritismo,longe de temer a divulgação dos escritos publicados
contra ele e interditar sua leitura aos adeptos, chama a atenção destes e do público para tais obras, a fim de que possam julgar por comparação. As referências à Revista Espírita indicam as obras que foram refutadas.

Veja as recomendações de Kardec para criar uma Biblioteca Espírita. Vale a pena!

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OBRAS PÓSTUMAS

1890

Publicada após o desencarne do mestre lionês, esta obra traz uma coletânea de textos inéditos que tratam de diversos assuntos como música, prece, história do Espiritismo e outros.

* (as codificadas e as escritas)

FONTE: http://www.aeradoespirito.net/CodifEspiritaIND/CodifEspiritaIND.html

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Ideologia Partidária x Doutrina dos Espíritos

Ideologia Partidária x Doutrina dos Espíritos

Jorge Hessen

        O legado da tolerância doutrinária não se deve manifestar na forma de omissão diante das enxertias conceituais e ideias anômalas que alguns companheiros intentam impor nas instituições doutrinárias em nome da militância política. Principalmente nas proximidades das disputas para eleições político-partidárias, em que surgem aqui e acolá discussões sobre se o espírita deve ou não candidatar-se a algum cargo eletivo.
        Em verdade, a Doutrina dos Espíritos não estimula o engajamento para funções nas estruturas político-partidárias. E não ajusta sua tribuna a serviço da propaganda partidária de quaisquer candidatos. A tarefa urgente do espírita é a transformação de comportamento individual, a luta pelo ideal do bem, em nome do Evangelho. Agindo assim, os espíritas não estão alheios às questões políticas; engana-se quem pensa o contrário. Os espíritas incorruptíveis, fiéis à família, à sociedade e aos compromissos morais, são, integralmente, cidadãos ativos, que exercem o direito e/ou obrigação (depende do ponto de vista) de votar; porém, sem vínculos com as absurdas contendas ideológico-partidárias.
        Se algum confrade estiver vinculado a qualquer partido político, se deseja concorrer como candidato a cargo eletivo, obviamente tem total liberdade de fazê-lo, mas que atue bem longe dos ambientes espíritas, de modo que não camufle, dentro da Instituição Espírita, disfarçada intenção, visando conquistar votos dos frequentadores. O excesso de cautela nesse caso é recomendável; não é questão de preconceitos; é até uma questão de lógica, pois, em se discutindo assuntos da política humana, é inadmissível trazer, para as hostes espíritas, o partidarismo, a ideologia (de “direita”, “esquerda”, “centro”, “ambas” etc. etc. etc.). Conquanto, como cidadão, cada espírita tenha o direito e o livre-arbítrio para militar no universo fragmentado das ideologias político-partidárias, não tem o direito de confundir as coisas. Não esqueçamos que o Espiritismo não é um fragmento da política mundana, nem tampouco se envolve com grupos políticos sectários, que utilizam meios contraditórios com os fins de poder.
        Como vimos, por razões óbvias, repetimos, é imperioso distinguir o interesse de valor inócuo da política humana da excelsa política de Jesus – a “Verdadeira luz que alumia a todo homem”(1). Quando trabalhamos pela erradicação da miséria e da exclusão social, estamos adotando a política “d’Aquele que é desde o princípio”(2). A política do verdadeiro espírita é a favor do ser humano e de seu crescimento espiritual. O espírita consciente não se submete nem se omite diante do poder político, e nem tampouco assume o lugar de “oposição” ou de “situação”. Até porque "o discípulo sincero do Evangelho não necessita respirar o clima da política administrativa do mundo para cumprir o ministério que lhe é cometido. O Governador da Terra, entre nós, para atender aos objetivos da política do amor, representou, antes de tudo, os interesses de Deus junto do coração humano, sem necessidade de portarias e decretos, respeitáveis embora"(3).
        BEZERRA E EURÍPEDES
        O primeiro capítulo do Estatuto da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas estabelece a seguinte PROIBIÇÃO (isso mesmo, PROIBIÇÃO!): “AS QUESTÕES POLÍTICAS, DE CONTROVÉRSIA RELIGIOSA E DE ECONOMIA SOCIAL NELA [S.P.E.E.] SÃO INTERDITAS”.         Portanto, e por imparcial razão, é inaceitável alguém utilizar a tribuna espírita para propaganda político-partidária. Da mesma forma, é situação deprimente um espírita utilizar palanques eleitoreiros a fim de implorar votos, valendo-se demagogicamente de sofismas e simulacros de “modéstia”, “pobreza”, “humildade”, “altruísmo”, “tolerância”, exaltando suas inigualáveis “virtudes” e colossais obras de “caridade”. Aconselhamos a tais imponderados "espíritas”, mendicantes de votos, que se afastem do Espiritismo e optem por outro credo, a fim de que seja assegurado ao movimento espírita a não contaminação dessa infecciosa política reles e mesquinha de interesses pessoais.
        Alguns defensores da politização nas casas espíritas evocam Bezerra de Menezes e Eurípedes Barsanulfo a fim de justificarem seus arrazoados. A carreira política de Bezerra de Menezes iniciou-se em 1861, quando foi eleito vereador municipal pelo Partido Liberal. Foi reeleito para o período 1864-1868 e elegeu-se Deputado Geral em 1867. Novamente foi eleito vereador em 1873. Ocupou o cargo de presidente da Câmara, que atualmente corresponde ao de prefeito do Rio de Janeiro, de julho de 1878 a janeiro de 1881. Nessa época, a intensificação da luta abolicionista teve a adesão de Bezerra, que usou de extrema prudência no trato do assunto. Entretanto, no dia 16 de agosto de 1886, o público de duas mil pessoas que lotava a sala de honra da Guarda Velha, no Rio de Janeiro, ouviu, silencioso e atônito, o famoso médico e político anunciar sua conversão ao Espiritismo. A partir daí, não se envolveu com o partidarismo político.
        Quanto a Eurípedes Barsanulfo, foi respeitável representante político de sua comunidade, sem dúvida. Tornou-se secretário da Irmandade de São Vicente de Paula, tendo participado ativamente da fundação do jornal "Gazeta de Sacramento" e do "Liceu Sacramentano". Logo viu-se guindado à posição natural de líder, por sua segura orientação quanto aos verdadeiros valores da vida. Através de informações prestadas por um dos seus tios, tomou conhecimento da existência dos fenômenos espíritas e das obras da Codificação Espírita. Diante dos fatos, voltou completamente suas atividades para a nova Doutrina, pesquisando por todos os meios e maneiras, até desfazer totalmente suas dúvidas. A partir daí, o partidarismo político deixou de ser parte integrante dos anseios do jovem mineiro.
        NÃO TEMOS NECESSIDADE DE REPRESENTANTES POLÍTICO
        Por fortes razões, é necessário que façamos profunda distinção entre Espiritismo e política partidária. Somos “políticos” desde que nascemos e vivemos em sociedade; sim, e daí? A Doutrina Espírita não poderá, jamais, ser veículo de especulação das ambições particulares nesse campo. Se o mundo gira em função de políticas econômicas, administrativas e sociais, não há como tolerar militância política dentro das hostes espíritas. Não se sustentam as teses simplistas de que só com a nossa participação efetiva nos processos políticos ao nosso alcance ajudaremos a melhorar o mundo. Isso é parvoíce ideológica.
        Não há como confundir a política terrena de interesses menores com a política do “Filho do Altíssimo”(4). Cada situação na sua dimensão correta. Política partidária, aos políticos pertence, enquanto que prática espírita é atividade para espíritas cristãos. O argumento de que os parlamentares se servem, com o pretexto de "defender" os postulados da Doutrina, ou aliciar prestígio social para as hostes espíritas, ou, ainda, ser uma "luz" entre os legisladores, é argumento ardiloso, desonesto. "NÃO TEMOS NECESSIDADE ABSOLUTA DE REPRESENTANTES OFICIAIS DO ESPIRITISMO EM SETOR ALGUM DA POLÍTICA HUMANA"(5).
        Os legítimos estudiosos espiritistas acercam-se da compreensão de viver naturalmente impregnados de bom senso e humildade. Entendem que "a missão da doutrina é consolar e instruir, em Jesus, para que todos mobilizem as suas possibilidades divinas no caminho da vida. Trocá-la por um lugar no banquete dos Estados é inverter o valor dos ensinos, porque todas as organizações humanas são passageiras em face da necessidade de renovação de todas as fórmulas do homem na lei do progresso universal"(6).
        Mais uma vez, afiançamos que não se sustentam as teses inúteis de que só com a nossa participação efetiva nos processos políticos ao nosso alcance ajudaremos a “melhorar” o Brasil. Não esqueçamos que o “Rei dos Séculos”(7) cogitou muito a melhora da criatura em si. Não nos consta que o “Filho de Deus”(8) tivesse aberto qualquer processo político-partidário contra ou a favor do poder constituído à época. Portanto, a nossa conduta apolítica (apartidária) não deve ser encarada como conformismo; pelo contrário, essa atitude é sinonímia de paciência operosa, que trabalha sempre para melhorar as situações e cooperar com aqueles que recebem a responsabilidade da administração de nossos interesses públicos.
        É acertado lembrar que, nos imperceptíveis consentimentos, vamos descaracterizando o programa da Terceira Revelação. A título de tolerância, diversas vezes fechamos os olhos para a politização nas casas espíritas; entretanto a experiência demonstra que, às vezes, é presumível até fechar um olho, porém nunca os dois. Considerando que nosso mundo é a morada da opinião, é natural que apresentemos para os companheiros militantes políticos desacordos sobre esse tema. Inadmissível, porém, tendo em vista a própria orientação da Doutrina Espírita, é o clima de injunções que se coloca, não raro, envolvendo os que confundem intensidade com agressividade, ou defesa da verdade com inflexibilidade.
        Estamos investidos de compromisso mais imediato, em vez de mergulhar no mundo da política saturada por equívocos deploráveis. Por isso, não devemos buscar uma posição de destaque, para nós mesmos, nas administrações transitórias da Terra. Se formos convocados pelas circunstâncias, devemos aceitá-la, não por honra da Doutrina que professamos, mas como experiência complexa, onde todo sucesso é sempre muito difícil. "O espiritista sincero deve compreender que a iluminação de uma consciência é como se fora a iluminação de um mundo, salientando-se que a tarefa do Evangelho, junto das almas encarnadas na Terra, é a mais importante de todas, visto constituir uma realização definitiva e real. A missão da doutrina é consolar e instruir, em Jesus, para que todos mobilizem as suas possibilidades divinas no caminho da vida. Trocá-la por um lugar no banquete dos Estados é inverter o valor dos ensinos, porque todas as organizações humanas são passageiras em face da necessidade de renovação de todas as fórmulas do homem na lei do progresso universal."(9)
        CONCLUSÃO
        Fosse uma sociedade educada para a tolerância recíproca, para o respeito à autoridade, para o trabalho persistente, sem conflitos entre servidores e governo, empresários e trabalhadores, em que as pessoas se unissem para compreender a necessidade dos valores espirituais na vida de cada um ou de cada grupo social, seríamos um país venturoso e pacífico. Muitos podemos admirar a política enquanto ciência, enquanto princípios, enquanto filosofia, mas definitivamente não precisamos nos envolver em partidarismos políticos. Pensamos ser justos em lutar por nossa ação voluntária na Sociedade, seja na ação profissional, seja na ação de cidadania, sem trocar nossa dignidade por politicagens ou conveniências pessoais.
        Referências bibliográficas:
1 João 1:9
2 1 João 2:13
3 Xavier, Francisco Cândido. Vinha de Luz, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1999, cap. 59
4 Lc 1.32
5 VIEIRA, Waldo. Conduta Espírita, Ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de janeiro: FEB, 2001, Cap. 10
6 Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1984, pergunta 60
7 1Tm 1.17
8 Mt 2.15
9 Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1984, pergunta 60.

Jorge Hessen

domingo, 28 de setembro de 2014

Falando sobre preconceitos

A) Qual sua opinião sobre as seguintes questões?
  A nossa humanidade evolui a cada dia, muitas coisas mudam. Antigas formas de pensar também mudam ou simplesmente desaparecem, mas o tal do preconceito está difícil de acabarmos com ele.