(Sociedade Espírita de Sens – Médium: Sr. Percheron)
R.E. ,
fevereiro de 1864, p.
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Quis Deus que o Espírito do homem fosse ligado à matéria para sofrer as
vicissitudes do corpo, com o qual se identifica a ponto de iludir-se e
de o tomar por si mesmo, quando não passa de sua prisão passageira; é
como se um prisioneiro se confundisse com as paredes da cela. Os
materialistas são muito cegos por não perceberem seu erro, porquanto, se
quisessem refletir um pouco seriamente, veriam que não é pela matéria
do corpo que se podem manifestar; concluiriam que, desde que a matéria
desse corpo se renova continuamente, como a água de um rio, não é senão
pelo Espírito que podem saber que são sempre eles mesmos.
Suponhamos que o corpo de um homem que pesasse sessenta quilos assimile,
para a reparação de suas forças, um quilo de nova substância por dia, a
fim de substituir a mesma quantidade de antigas moléculas de que se
separa e que cumpriram o papel que deviam desempenhar na composição de
seus órgãos; assim, ao cabo de sessenta dias a matéria desse corpo
estaria renovada. Nesta hipótese, cujos números podem ser contestados,
mas verdadeira em princípio, a matéria do corpo renovar-se-ia seis vezes
por ano; portanto, o corpo de um homem de vinte anos já se teria
renovado cem vezes; aos quarenta, duzentas e quarenta vezes; aos
oitenta, quatrocentas e oitenta vezes. Mas o vosso Espírito se terá
renovado? Não, pois tendes consciência de que sois sempre vós mesmos. É,
pois, o vosso Espírito que constitui o vosso eu, e segundo o qual vós
vos manifestais, e não o vosso corpo, que não passa de matéria efêmera e
mutável.
Os materialistas e os panteístas dizem que as moléculas desagregadas
depois da morte do corpo retornam à massa comum de seus elementos
primitivos, o mesmo se dando com a alma, isto é, com o ser que pensa em
vós; mas que sabem eles disso? Há uma massa comum de substância que
pensa? Jamais o demonstraram, e é o que deveriam ter feito antes de
afirmar. Da parte deles não passa de uma hipótese. Ora, se durante a
vida do corpo as moléculas se desagregam centenas de vezes, não obstante
o Espírito seja sempre o mesmo e conserve a consciência de sua
individualidade, não é mais lógico supor que a natureza do Espírito não é
passível de desagregar-se? Por que, então, se dissolveria após a morte
do corpo, e não antes?
Após esta digressão, dirigida aos materialistas, volto ao meu assunto.
Se Deus quis que suas criaturas espirituais fossem momentaneamente
unidas à matéria, é, repito, para as fazer sentir e, a bem dizer, para
que sofressem as necessidades que a matéria exige de seus corpos, no que
respeita ao seu sustento e conservação. Dessas necessidades nascem as
vicissitudes que vos fazem sentir o sofrimento e compreender a
comiseração que deveis ter por vossos irmãos na mesma posição. Esse
estado transitório é, pois, necessário ao adiantamento do vosso
Espírito, que, sem isto,ficaria estagnado. As necessidades que o corpo
vos faz experimentar estimulam os vossos Espíritos e os forçam a buscar
os meios de as prover; desse trabalho forçado nasce o desenvolvimento do
pensamento. Constrangido a presidir aos movimentos do corpo para os
dirigir, visando a sua conservação, o Espírito é conduzido ao trabalho
material e daí ao trabalho intelectual, necessários um ao outro, pois a
realização das concepções do Espírito exige o trabalho do corpo e este
não pode ser feito senão sob a direção e o impulso do Espírito. Tendo
assim o Espírito adquirido o hábito de trabalhar, e a ele constrangido
pelas necessidades do corpo, o trabalho, por sua vez, se lhe torna uma
necessidade; e quando, desprendido de seus laços, não tem mais de pensar
na matéria, pensa em trabalhar em si mesmo para o seu adiantamento.
Agora compreendeis a necessidade para o vosso Espírito de estar ligado à
matéria durante uma parte de sua existência, para não ficar
estacionário.
Teu pai,
Percheron, assistido pelo Espírito Pascal
Observação – A estas observações, perfeitamente justas,acrescentaremos
que, trabalhando para si mesmo, o Espírito encarnado trabalha para a
melhoria do mundo em que habita, assim ajudando a sua transformação e o
seu progresso material, que estão nos desígnios de Deus, de quem é o
instrumento inteligente. Na sua sabedoria previdente, quis a Providência
que tudo se encadeasse na Natureza; que, todos, homens e coisas, fossem
solidários. Depois, quando o Espírito houver realizado a sua tarefa e
estiver suficientemente adiantado, gozará do fruto de suas obras.
ESTUDOS SOBRE A REENCARNAÇÃO
(Sociedade Espírita de Paris – Médium: Srta. A. C.)
I
Limites da reencarnação
A reencarnação é necessária enquanto a matéria domina o Espírito. Mas,
desde que o Espírito encarnado chegou a dominar a matéria e a anular os
efeitos de sua reação sobre o moral,a reencarnação não tem mais nenhuma
utilidade nem razão de ser. Com efeito, o corpo é necessário ao Espírito
para o trabalho progressivo até que, tendo chegado a manejar este
instrumento à vontade, a lhe imprimir sua vontade, o trabalho esteja
realizado. Então lhe é necessário outro campo para a sua marcha, ao seu
adiantamento para o infinito; é-lhe necessário um outro círculo de
estudos, onde a matéria grosseira das esferas inferiores seja
desconhecida. Tendo se depurado e experimentado suas sensações, na Terra
ou em globos análogos, está maduro para a vida espiritual e seus
estudos. Havendo-se elevado acima de todas as sensações corporais, não
mais tem nenhum desses desejos ou necessidades inerentes à corporeidade:
é Espírito e vive pelas sensações espirituais, que são infinitamente
mais deliciosas do que as mais agradáveis sensações corporais.
II
A reencarnação e as aspirações do homem
As aspirações da alma conduzem à sua realização, e esta realização se
cumpre na reencarnação, enquanto o Espírito está no trabalho material.
Explico-me. Tomemos o Espírito em seus primórdios na carreira humana:
estúpido e bruto, sente, contudo, a chama divina em si, pois que adora
um Deus, que materializa consoante a sua materialidade. Nesse ser, ainda
vizinho do animal,há uma aspiração instintiva, quase inconsciente, para
um estado menos inferior. Começa por desejar satisfazer seus apetites
materiais e inveja os que vê num estado melhor que o seu; assim, numa
encarnação seguinte, ele mesmo escolhe, ou, antes, é arrastado a um
corpo mais aperfeiçoado; e sempre, em cada uma de suas existências,
deseja um melhoramento material; jamais se sentindo satisfeito, quer
subir sempre, porque a aspiração à felicidade é a grande alavanca do
progresso.
À medida que as sensações corporais se tornam maiores, mais
aperfeiçoadas, suas sensações espirituais também despertam e crescem.
Então começa o trabalho moral e a depuração da alma se une à aspiração
do corpo para chegar ao
estado superior.
Esse estado de igualdade de aspirações materiais e espirituais não é de
longa duração; logo o Espírito se eleva acima da matéria e suas
sensações não mais podem ser satisfeitas por ela; necessita mais;
precisa de melhor; mas aí, tendo sido o corpo levado à perfeição
sensitiva, não pode acompanhar o Espírito que, então, o domina e dele se
desprende cada vez mais, como de um instrumento inútil; direciona todos
os seus desejos, todas as suas aspirações para um estado superior;
sente que as necessidades corporais que lhe eram um motivo de felicidade
em suas satisfações, não são mais que um estorvo, um aviltamento, uma
triste necessidade, da qual aspira libertar-se para gozar, sem entraves,
de todas as venturas espirituais que pressente.
III
Ação dos fluidos na reencarnação
Sendo os fluidos os agentes que movimentam o nosso aparelho corporal,
também são eles os elementos de nossas aspirações, pois há fluidos
corporais e fluidos espirituais, tendendo todos a elevar-se e a unir-se a
fluidos da mesma natureza. Esses fluidos compõem o corpo espiritual do
Espírito que, na condição de encarnado, age por meio deles sobre a
máquina humana que lhe compete aperfeiçoar, pois tudo é trabalho na
Criação, tudo concorre para o progresso geral.
O Espírito tem livre-arbítrio, e sempre busca o que lhe é agradável e o
satisfaz. Se for um Espírito inferior e material, procura suas
satisfações na materialidade e, então, dará impulso aos seus fluidos
corporais, que dominarão, mas tenderão sempre a crescer e elevar-se
materialmente. Assim, as aspirações desses encarnados serão materiais e,
voltando à condição de Espírito, buscará nova encarnação, em que
satisfará suas necessidades e desejos materiais; porque, notai bem, a
aspiração corporal não pode pedir, como realização, senão uma nova
corporeidade, ao passo que a aspiração espiritual não se prende senão às
sensações do Espírito. A isto será solicitado por seus fluidos, que
deixou que se materializassem; e como no ato da reencarnação os fluidos
agem para atrair o Espírito no corpo que foi formado, havendo,
portanto,atração e união dos fluidos, a reencarnação se opera em
condições que darão satisfação às aspirações de sua existência
precedente.
Há fluidos espirituais como fluidos materiais, se estes dominarem; mas,
então quando o espiritual sobreleva o material, o Espírito, que julga de
modo diferente, escolhe ou é atraído por simpatias diferentes; como
necessita de depuração e a esta só chega pelo trabalho, as encarnações
escolhidas lhe são mais penosas porque, depois de haver dado supremacia à
matéria e a seus fluidos, deve constrangê-la, lutar contra ela e
dominá-la. Daí essas existências tão dolorosas e que, muitas vezes,
parecem injustamente infligidas a Espíritos bons e inteligentes. Estes
fazem sua última etapa corporal e entram, ao sair deste mundo, nas
esferas superiores, onde suas aspirações superiores encontrarão a sua
realização.
IV
As afeições terrenas e a reencarnação
O dogma da reencarnação indefinida encontra oposições no coração do
encarnado que ama, porquanto, em presença dessa infinidade de
existências, produzindo novos laços em cada uma delas, ele pergunta com
assombro em que se tornam as afeições particulares, e se estas não se
fundem num único amor geral, o que destruiria a persistência da afeição
individual. Ele se pergunta se esta afeição individual não é apenas um
meio de adiantamento e então o desânimo se insinua em sua alma, porque a
verdadeira afeição experimenta a necessidade de um amor eterno,
sentindo que ela não se cansará jamais de amar. O pensamento desses
milhares de afeições idênticas lhe parece uma impossibilidade,mesmo
admitindo faculdades maiores para o amor.
O encarnado que estuda seriamente o Espiritismo, sem idéia preconcebida
para um sistema, de preferência a outro, sente-se arrastado à
reencarnação pela justiça que resulta do progresso e do avanço do
Espírito em cada nova existência; mas quando o estuda do ponto de vista
das afeições do coração, duvida e se assusta, mau grado seu. Não podendo
pôr de acordo esses dois sentimentos, diz a si mesmo que aí ainda há um
véu a levantar e seu pensamento em trabalho atrai as luzes dos
Espíritos para conciliar o coração com a razão.
Já o disse antes: a encarnação pára onde a materialidade é anulada.
Mostrei como o progresso material a princípio havia aperfeiçoado as
sensações corporais do Espírito encarnado; como o progresso espiritual,
vindo a seguir, tinha contrabalançado a influência da matéria,
subordinando-a enfim à sua vontade e que,chegado a esse grau de domínio
espiritual, a corporeidade perdera sua razão de ser, pois o trabalho
estava realizado.
Examinemos agora a questão da afeição sob os seus dois aspectos, material e espiritual.
Antes de tudo, o que é a afeição, o amor? Ainda a atração fluídica,
atraindo um ser para outro, unindo-os num mesmo sentimento. Essa atração
pode ser de duas naturezas diferentes, já que os fluidos são de duas
naturezas. Mas para que a afeição persista eternamente, é preciso que
seja espiritual e desinteressada; são precisos abnegação, devotamento e
que nenhum sentimento pessoal seja o móvel deste arrastamento simpático.
Desde que nesse sentimento haja personalidade, há materialidade. Ora,
nenhuma afeição material persiste nos domínios do Espírito. Desse modo,
toda afeição que não resulta senão do instinto animal ou do egoísmo, se
destrói com a morte terrestre; é assim que seres que se dizem amados são
esquecidos após pouco tempo de separação! Vós os amastes por vós, e não
por eles, que não existem mais, pois os esquecestes e os substituístes;
procurastes consolo no esquecimento; eles se vos tornam indiferentes,
porque não tendes mais amor.
Contemplai a Humanidade e vede quão poucas são as afeições verdadeiras
na Terra! Assim, não se devem admirar tanto da multiplicidade das
afeições aí contraídas. São em minoria relativa, mas existem, e as que
são reais persistem e se perpetuam sob todas as formas, primeiro na
Terra, depois continuam no estado de Espírito, numa amizade ou num amor
inalterável, que só faz crescer e se elevar cada vez mais.
Vamos estudar esta verdadeira afeição: a afeição espiritual.
A afeição espiritual tem por base a afinidade fluídica espiritual que,
atuando só, determina a simpatia. Quando é assim, é a alma que ama a
alma e essa afeição só toma força pela manifestação dos sentimentos da
alma. Dois Espíritos unidos espiritualmente se buscam e tendem sempre a
aproximar-se; seus fluidos são atrativos. Se estiverem num mesmo globo,
serão impelidos um para o outro; se separados pela morte terrena, seus
pensamentos se unirão na lembrança e a reunião far-se-á na liberdade do
sono; e quando a hora de uma nova encarnação soar para um deles,
procurará aproximar-se de seu amigo, entrando no que é a sua filiação
material, e o fará com tanto mais facilidade quanto seus fluidos
perispirituais materiais encontrarão afinidades na matéria corporal dos
encarnados que deram à luz o novo ser. Daí um novo aumento de afeição,
uma nova manifestação de amor. Tal Espírito amigo que vos amou como pai,
vos amará como filho,como irmão ou como amigo, e cada um desses laços
aumentará de encarnação em encarnação e se perpetuará de maneira
inalterável quando, realizado o vosso trabalho, viverdes a vida do
Espírito.
Mas esta verdadeira afeição não é comum na Terra e a matéria a vem
retardar, anular-lhe os efeitos, conforme domine o Espírito. A
verdadeira amizade, o verdadeiro amor, sendo espiritual, tudo que se
refere à matéria não é de sua natureza e em nada concorre para a
identificação material. A afinidade persiste,mas fica em estado latente
até que, triunfando o fluido espiritual, o progresso simpático se efetue
novamente.
Em síntese, a afeição espiritual é a única resistente no domínio do
Espírito. Na Terra e nas esferas do trabalho corporal, concorre para o
avanço moral do Espírito encarnado que, sob a influência simpática,
realiza milagres de abnegação e de devotamento aos seres amados. Aqui,
nas moradas celestes, ela é a completa satisfação de todas as aspirações
e a maior felicidade que o Espírito possa desfrutar.
V
O progresso entravado pela reencarnação indefinida
Até aqui a reencarnação tem sido admitida de maneira muito prolongada;
não se pensou que esse prolongamento da corporeidade, embora cada vez
menos material, acarretava necessidades que deviam atrasar o progresso
do Espírito. Com efeito, admitindo a persistência da geração nos mundos
superiores, se atribuem ao Espírito encarnado necessidades corporais,
dão-lhe deveres e ocupações ainda materiais, que o sujeitam e detêm o
impulso dos estudos espirituais. Qual a necessidade desses entraves? Não
pode o Espírito gozar das alegrias do amor sem sofrer as enfermidades
corporais? Mesmo na Terra, esse sentimento existe por si mesmo,
independente da parte material do nosso ser; por mais raros que sejam,
há exemplos suficientes para provar que deve ser sentido, de modo mais
geral, entre os seres mais espiritualizados.
A reencarnação proporciona a união dos corpos; o amor puro, apenas a
união das almas. Os Espíritos se unem segundo afeições iniciadas em
mundos inferiores, e trabalham juntos por seu progresso espiritual. Têm
uma organização fluídica totalmente diferente da que era conseqüência de
seu aparelho corporal, e seus trabalhos se exercem sobre os fluidos, e
não sobre os objetos materiais. Vão a esferas que, também, realizaram
seu período material e cujo trabalho humano ensejou a desmaterialização,
esferas que, chegadas ao apogeu de seu aperfeiçoamento, também passaram
por uma transformação superior que as torna apropriadas a experimentar
outras modificações, mas num sentido inteiramente fluídico.
Agora compreendeis a imensa força do fluido, força que mal podeis
constatar, mas que não vedes nem apalpais. Num estado menos pesado ao em
que estais, tereis outros meios de ver,tocar, trabalhar esse fluido,
que é o grande agente da vida universal. Por que, então, o Espírito
ainda teria necessidade de um corpo para m trabalho que está fora das
apreciações corporais? Dir-me-eis que esse corpo estará em relação com
os novos trabalhos que o Espírito deverá realizar; mas, levando-se em
conta que esses trabalhos serão completamente fluídicos e espirituais
nas esferas superiores, por que lhe dar o embaraço das necessidades
corporais, uma vez que a reencarnação determina sempre, como já
disse,geração e alimentação, isto é, necessidades da matéria a
satisfazer e, em contrapartida, entraves para o Espírito? Compreendei
que o Espírito deve ser livre em seu vôo para o infinito; compreendei
que, tendo saído das fraldas da matéria, aspira, como a criança, a
marchar e a correr sem ser detido pelo zelo materno, e que essas
primeiras necessidades da primeira educação da criança são supérfluas
para a criança crescida, e insuportáveis para o adolescente. Não
desejeis, pois, ficar na infância; olhai-vos como alunos que fazem os
últimos estudos escolares e se dispõem a entrar no mundo, a nele ter a
sua posição e a começar trabalhos de outro gênero, que seus estudos
preliminares terão facilitado.
O Espiritismo é a alavanca que, de um salto, erguerá ao estado
espiritual todo encarnado que, querendo bem compreendêlo e o pôr em
prática, se empenhará em dominar a matéria, a tornar-se seu senhor, a
aniquilá-la; todo Espírito de boa vontade pode pôr-se em condição de
passar, ao deixar este mundo, para um estado espiritual sem retorno
terrestre. Falta-lhe apenas fé ou vontade ativa. O Espiritismo a oferece
a todos os que o quiserem compreender em seu sentido moralizador.
Um Espírito protetor do médium
Observação – Esta comunicação não traz outra assinatura, o que prova que
não é necessário ter tido um nome célebre na Terra para ditar boas
coisas.
É de notar-se a analogia existente entre a comunicação de Sens,
transcrita mais acima, e a primeira parte desta. Sem dúvida esta última é
mais desenvolvida, mas a idéia fundamental sobre a necessidade da
encarnação é a mesma. Citamos ambas para mostrar que os grandes
princípios da doutrina são ensinados em toda parte e que é assim que se
constituirá e se consolidará a unidade do Espiritismo. Essa concordância
é o melhor critério da verdade. Ora, não passa despercebido que as
teorias excêntricas e sistemáticas, ditadas por Espíritos pseudo-sábios
são sempre circunscritas a um círculo estreito e individual, razão por
que nenhuma prevaleceu, e também porque não são de temer, pois só têm
uma existência efêmera, que se apaga como uma fraca luz ante a claridade
do dia.
Quanto à última comunicação, seria supérfluo ressaltar seu alto alcance, como fundo e como forma. Pode resumir-se assim:
A vida do Espírito, considerada do ponto de vista do progresso, apresenta três períodos principais, a saber:
1o – Período material, no qual a influência da matéria domina a do
Espírito. É o estado dos homens que se entregam às paixões brutais e
carnais, à sensualidade; cujas aspirações são exclusivamente terrestres,
ligados aos bens temporais, ou refratários às idéias espirituais;
2o – Período de equilíbrio, no qual as influências da matéria e do
Espírito se exercem simultaneamente; em que o homem, embora submetido às
necessidades materiais, pressente e compreende o estado espiritual; em
que trabalha para sair do estado corporal;
Nesses dois períodos o Espírito está sujeito à reencarnação, que se realiza nos mundos inferiores e médios.
3o – Período espiritual, no qual tendo o Espírito dominado completamente
a matéria, não mais necessita da encarnação, nem do trabalho material,
pois seu trabalho é inteiramente espiritual; é o estado dos Espíritos
nos mundos superiores.
A facilidade com que certas pessoas aceitam as idéias espíritas, das
quais, parece, têm a intuição, indica que pertencem ao segundo período;
mas entre este e os outros há uma multidão de graus que o Espírito
transpõe tanto mais rapidamente quanto mais próximo do período
espiritual. É assim que, de um mundo material como a Terra, pode ir
habitar um mundo superior, como Júpiter, por exemplo, se seu avanço
moral e espiritual for suficiente para o dispensar de passar pelos graus
intermediários. Depende, pois, do homem deixar a Terra sem retorno,
como mundo de expiação e prova para ele, ou a ela não voltar senão em
missão.