quinta-feira, 2 de maio de 2013

E se Jesus viesse hoje?

E se Jesus viesse hoje?

Na parábola "A infância de Jesus", J.M. Coetzee questiona a eficácia de Cristo num mundo sem fé
LUIS ANTÔNIO GIRON
Ainda não surgiu um provocador capaz de parodiar E.L. James e escrever a trilogia 50 tons de Cristo, mas Jesus já comparece como personagem de romances nas mais variadas formas, situações e finalidades. É protagonista, anti-herói, alvo de sátira ou referência distante. Não existe um método confiável para medir quanto a presença de Cristo numa obra aumenta suas vendas, mas é certo que a menção do nome de Jesus ajuda um livro a fazer barulho. Sua aparição pode gerar sucesso de crítica ou de público, assim como suscitar escândalos – algo que sempre serve como chamariz para livros medíocres.
O interesse em torno do Jesus literário se repete com o lançamento de A infância de Jesus (Companhia das Letras, 304 páginas, R$ 44, tradução de José Rubens Siqueira), o 13° romance em 39 anos de carreira do sul-africano John Maxwell Coetzee, de 73 anos. O livro descreve os primeiros anos de um garoto, David, que parece ser Jesus. No entanto, em vez do berço da Galileia, ele ressurge no mundo atual, materialista e desprovido de crenças. É o menino certo no tempo e no lugar errados. Se Jesus viesse hoje, faria alguma diferença no mundo? O tema soa ambicioso e apropriado ao detentor do Prêmio Nobel de Literatura de 2003. Não surpreende que a repercussão do romance tenha sido grande quando saiu em março, em inglês.
Em A infância de Jesus, Coetzee imita e ironiza a parábola, um tipo de texto que dá lições de moral. Como resultado, Coetzee destrói a função edificante da parábola. O crítico Benjamin Markovits, do jornal inglês The Guardian, afirma que a referência a Jesus é remota: “O que vale em Coetzee é a habilidade mágica de continuar a história”. O livro marca a volta de Coetzee à verve crítica, segundo o escritor americano Benjamin Lytal. “Ele imagina o que poderia ocorrer se uma criança semelhante a Cristo surgisse hoje num mundo descrente”, diz.
Coetzee narra as desventuras do menor abandonado David, que aos 5 anos desembarca na cidade de Novilla levado por um adulto, Simón. Ele é batizado por Simón, pois não sabe o próprio nome. A missão dos dois desvalidos é encontrar a mãe do menino. Novilla revela-se um lugar estranho. Seus habitantes parecem bons, mas nada fazem pelo próximo. Defendem a igualdade de direitos, embora os ricos mantenham os privilégios. David diz coisas sábias que os adultos não ouvem. Convida-os a uma vida nova, baseada no amor, mas ninguém o leva a sério. Novilla simboliza as inconsistências da vida contemporânea.
Coetzee aborda Jesus de modo excêntrico. Ele se pergunta: Cristo, em toda a sua inocência, bondade e santidade, faria efeito no mundo atual? A resposta é negativa. Por isso, aqueles que buscarem a “palavra sagrada” no livro podem se decepcionar. O Cristo de Coetzee é uma figura enigmática fadada ao fracasso, repleta de nuances e subentendidos – e é o que a torna mais comovente. Coetzee poderia ter intitulado seu livro 50 meios-tons de Cristo. Mas não precisa desse tipo de promoção.
Seu romance faz parte da linhagem de obras que explora a personagem histórica de Jesus e põe em questão sua divindade. Autores de talentos distintos costumam fazer sucesso e ganhar repercussão valendo-se de Cristo como tema, ainda que o resultado em número de leitores varie. Antes de Coetzee, escritores se embrenharam pela Bíblia a fim de seguir os passos de Cristo – e induzir o personagem a tropeçar. Usaram, para tanto, as poucas fontes históricas que restaram.
O americano Lew Wallace planejou escrever o romance Ben-Hur para refutar a existência de Jesus. “Queria falar da conversão de um nobre judeu e mostrar que o cristianismo foi uma religião baseada num mito”, disse. “Mas, ao concluir, estava convencido da existência de Cristo.” As dúvidas de Wallace viraram sucesso no cinema em 1925 e 1959. O grego Nikos Kazantzakis, talvez o mais devoto dos céticos, escreveu o romance A última tentação de Cristo. Ali, aproximou-se do homem Jesus e assim expôs seus dilemas morais. Esses livros fizeram sucesso e causaram polêmica em torno do estatuto humano e histórico de Cristo. Mais convicto que Wallace e Kazantzakis, o irlandês e católico C.S. Lewis valeu-se da imagem do Bom Pastor para lançar a série de sete livros juvenis As crônicas de Nárnia. O personagem central é Aslam, um leão falante que se oferece em sacrifício. C.S. Lewis revelou que Aslam simbolizava Cristo. O sucesso da alegoria chegou ao século XXI, quando Nárnia virou série no cinema.
À medida que o século XX avançou, surgiram narrativas que promovem um retrato pouco edificante de Jesus. A reação das igrejas cristãs tornou-se mais estridente – e o número de leitores explodiu. Nos anos 1990, o português José Saramago publicou O evangelho segundo Jesus Cristo. A Igreja Católica exortou os fiéis a evitarem a obra, que retrata Jesus como um homem que prega uma fantasia e morre por ela. Em 2010, a reação das comunidades religiosas foi parecida à sátira O bom Jesus e o infame Cristo, de Philip Pullman. No livro, uma falsa virgem, Maria, dá à luz dois irmãos rivais que lutam até a morte. Sucesso de vendas.
Diante da literatura recente que humaniza mas enxovalha Jesus, o romance de Coetzee parece até equilibrado em sua alegoria. Cristo ressurge como uma lição mal compreendida e enigmática. Coetzee virá ao Brasil para dar palestras em Curitiba na segunda-feira 15 e em Porto Alegre na quinta-feira 18. O tema será censura. A contar com sua atitude avessa a promoções, é improvável que fale de seu último personagem. Mas seria interessante perguntar o que ele sente ao recolocar Jesus no mapa da ficção.
Notícia publicada na Revista Época, em 12 de abril de 2013.

Raphael Vivacqua Carneiro* comenta
O bilionário mercado editorial busca constante e avidamente novos best-sellers. Nessa corrida desenfreada, um dos expedientes que vez por outra são usados para atrair a atenção dos leitores é tomar emprestado personagens sagrados e inseri-los em contextos profanos, subvertendo-lhes a tradição. Os autores que assim agem, com o único propósito de chocar o público e impulsionar as suas vendas, não merecem que lhes dediquemos especial atenção nestas linhas.
John Maxwell Coetzee, escritor laureado com o prêmio Nobel de Literatura, certamente nos proporciona bem mais do que o mero escândalo torpe e vazio, em sua obra A infância de Jesus. Ele nos traz um questionamento digno de reflexões profundas de nossa parte. Jesus, com toda sua santidade, causaria o mesmo efeito se nascesse no mundo atual, em que o materialismo utilitarista e a pouca fé predominam? Se Jesus viesse hoje, faria alguma diferença no mundo?
A liberdade criativa do autor permitiu-lhe dar um desfecho fracassado ao seu personagem fictício. O Cristo de seu romance é desprezado e incompreendido pelos homens de hoje. Sem entrarmos no mérito da qualidade literária da obra, podemos aproveitar o ensejo deste tema para refletirmos, à luz do Espiritismo, sobre a missão do Cristo na Terra e o seu impacto sobre a Humanidade de outrora e a atual.
Para os espíritas, Jesus constitui o mais perfeito guia e modelo oferecido por Deus para instruir os homens nas leis divinas e alavancar o seu progresso moral. Sem diminuir a importância de todos os missionários sábios e espiritualizados que trouxeram a luz aos homens, em todas as épocas e continentes, é inegável a relevância da passagem de Jesus na Terra e o seu impacto nos destinos da Humanidade. Sem liderar exércitos, nem governar impérios, nem ostentar riquezas, nem escrever uma só página, revolucionou a história do mundo e estabeleceu um código moral adotado por mais de dois bilhões de pessoas, um terço da população mundial.
Sendo um espírito tão grandioso e iluminado, a razão nos leva a crer que Jesus faria a diferença no mundo, em qualquer época que vivesse entre nós. Fazer a diferença é característica das missões dos grandes mensageiros divinos. Contudo, um evento de tal magnitude como foi a vinda do Cristo à Terra havia de ser cercado de cuidados e meticulosamente planejado quanto a local e época mais apropriados à sua missão. Não foi por obra do acaso que ele viveu na Galileia há 2000 anos.
Naqueles tempos, os homens eram mais rudes e as guerras entre os povos eram mais constantes, motivadas principalmente pela posse da terra e pela subjugação tributária. Jesus não escolheu nascer nos tempos áureos e prósperos de Israel, durante o reinado de Salomão, 1000 anos antes. Tampouco escolheu nascer na grande metrópole de Roma.
Somos naturalmente levados a perguntar por que a preferência de Jesus por aquela pequena província do Império Romano, para levar a efeito as suas divinas lições à Humanidade. A própria lógica nos faz reconhecer que, de todos os povos da Antiguidade, Israel era o mais crente. "Muito se pedirá de quem muito haja recebido", e os israelitas haviam conquistado muito, do Alto, em matéria de fé, sendo justo que se lhes exigisse um grau correspondente de compreensão, em matéria de humildade e de amor. Vozes proféticas anunciavam a vinda do Messias, o salvador do mundo. Contudo, os doutores da lei, na sua vaidade exclusivista e pretensiosa, esperavam-no chegar em seu carro vitorioso, proclamando a todas as gentes a superioridade do povo escolhido.
Como era previsto nas profecias, o doce rabi foi reconhecido somente pelos humildes, pobres, doentes e desvalidos, que viam em suas curas milagrosas e em suas palavras de sabedoria, a presença do filho de Deus. Foi repudiado, perseguido, aviltado e crucificado pelos poderosos e orgulhosos. No entanto, a morte do corpo não representaria obstáculo aos planos divinos de propagação do ideal do Cristo e do espírito cristão. A breve estadia de Jesus entre os homens fora triunfante, afinal, apesar do aparente revés inicial.
E se Jesus viesse hoje? A Humanidade mudou muito nestes 2000 anos e, de forma mais acentuada, nos dois últimos séculos. A brutalidade dos homens foi amenizada, refletindo nos costumes e nas leis humanas. A escravidão foi abominada, a pena de morte foi abolida na maioria dos países, os direitos humanos universais são exigidos pelas sociedades. As ciências tiveram progresso exponencial, desvendando o gene, o átomo, o cosmos. Apesar de todo esse relativo progresso intelectual, social e econômico, os instrutores espirituais continuam afirmando que as maiores mazelas humanas continuam sendo o orgulho e o egoísmo. E isto se reflete nos valores materialistas e na falta de fé de grande parte dos homens.
Pesquisa realizada em 2011 pelo instituto Ipsos com mais de 18 mil adultos em 23 países, mostrou que cerca de metade da população mundial não acredita na existência de Deus ou na vida espiritual após a morte do corpo. Depois de todas as lições deixadas pelo Evangelho do mestre Jesus, depois do advento do Consolador prometido, pela revelação espírita que trouxe “as grandes vozes do Céu” para nos mostrar a realidade de além-túmulo, ainda assim o materialismo persiste nas mentes mais renitentes e nos corações mais impermeáveis.
Diante deste quadro, se Jesus estivesse encarnado novamente entre nós, nos dias atuais, sua missão seria igualmente árdua e penosa. Sua mensagem libertadora igualmente contrariaria poderosos interesses políticos e econômicos. Sua mensagem de reforma moral encontraria almas empedernidas nos prazeres imediatistas e nos vícios de variadas formas. Contudo, não há motivo para pessimismo. Os planos divinos são inexoráveis e o seu triunfo, uma certeza.
A passagem do Cristo pela Palestina foi o período da semeadura; os primeiros séculos do cristianismo foram o período da germinação; em seguida veio o período do crescimento desordenado da árvore do Senhor. Chegaram os tempos de transição de nossa Humanidade, tempos em que a árvore há de ser podada, preparando-se para o viço e a floração. Os galhos secos e retorcidos serão apartados, para dar lugar aos belos ramos que anseiam por brotar. O destino da Humanidade é o iminente estágio de regeneração, que constitui etapa essencial à conquista da futura bem-aventurança.
 
* Raphael Vivacqua Carneiro é engenheiro e mestre em informática. É palestrante espírita e dirigente de grupo mediúnico em Vitória, Espírito Santo. É um dos fundadores do Espiritismo.net.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Pedido feito: Regressão de memória

Eu gostaria de informações sobre Regressão de memória.
Aqui vão 3 artigos espíritas que abordam o tema . Verá que há alguma controvérsia mesmo no meio espírita.
TERAPIA DE VIDAS PASSADAS
Extraído do livro Loucura e Obsessão - pelo espírito Manoel P. Miranda, psicog. de Divaldo P Franco
"A terapia de vidas passadas é conquista muito importante, recentemente lograda pelos nobres estudiosos das "ciências da alma". Como ocorre com qualquer terapêutica, tem os seus limites bem identificados, não sendo uma panacéia capaz de produzir milagres. Em grande número de casos, os seus resulta os são excelentes, principalmente pela contribuição que oferece, na área das pesquisas sobre a reencarnação, entre os cientistas. Libera o paciente de muitos traumas e conflitos, propiciando a reconquista do equilíbrio psicológico, para a regularização dos erros pretéritos, sob outras condições. Mesmo ai, são exigidos muitos cuidados dos terapeutas, bem como conhecimento das leis do reencarnacionismo e da obsessão, a fim de ser levado a bom termo o tratamento, nesse campo. Outrossim, nesta, mais do que em outras terapias, a conduta moral do agente deve ser superior, de tal forma que não se venha a enredar com os consócios espirituais do seu paciente, ou que não perca uma pugna, num enfrentamento com os mesmos, que facilmente se interpõem no campo as evocações trazidas à baila... Ainda devemos considerar que cristalizações de longo período, no inconsciente, não podem ser arrancadas com algumas palavras e induções psicológicas de breve duração. Neste setor, além dos muitos cuidados exigíveis, o tempo e fator de alto significado, para os resultados salutares que se desejam alcançar.
"Inicialmente, em se considerando a intensidade da alienação de Aderson, com o seu total alheamento ao mundo objetivo, nada seria conseguido com essa terapia, em face da sua total ausência de respostas aos estímulos externos. Demais, se ora passível fazé-lo, numa fase menos grave, o seu reencontro com toda a gama de fatos danosos praticados produzir-lhe-ia tal horror, que a demência o assaltaria da mesma forma. Desejando esquecer, não dispõe de forças para enfrentar-se e superar todos os prejuízos ocasionados às suas vítimas. Desta forma, o recurso que ora se lhe aplica, nesta Casa, embora haja outros, fará que, a pouco e pouco, retorne à lucidez, e, quiçá, ao interesse pela vida. Por fim, um recurso terapêutico com eficiência imediata somente resultaria positivo num paciente cujo mérito lhe facultasse a recuperação, porque os fatores que geram a enfermidade, na condição de regularizadores das dividas, não podem ficar esquecidos, quando da reconquista da saúde por pane de quem os sofre. Isto ocorre em todos os campos da vida, exceto quando a misericórdia de acréscimo funciona, liberando o ser de uma forma de provação, para que outro recurso regenerador, pela ação do bem praticado, seja posto em campo. A verdade é que a divida se torna o sinal de identificação de quem delinqüi, esperando a justa regularização. Até esse momento, auxiliemos conforme nos esteja ao alcance.
TERAPIA DAS VIDAS PASSADAS
 Do livro A Força das Ideias de Richard Simonetti Ed. O Clarim
Nota-se certa resistência à Terapia das Vidas Passadas, no meio espírita. Por quê?
 Parece-me que não é bem isso. Enfatiza-se que a TVP é um recurso terapêutico a ser aplicado por profissionais habilitados - médicos e psicólogos -, e não um exercício de ajuda espiritual no Centro Espírita. >Será prudente essa incursão pelo passado das pessoas, considerando, como explica a Doutrina Espírita, que o esquecimento é uma bênção?
 Aprendemos com o Espiritismo que a dor, em suas várias manifestações, é uma bênção. Nem por isso a Doutrina considera imprudente o empenho da medicina em aliviá-la.
 3- Circula em vários periódicos-espíritas uma manifestação de Emmanuel, em psicografia de Chico Xavier, condenando a regressão. O que dizer disso?
 Com a sabedoria que o caracteriza, Emmanuel pondera a inconveniência da regressão inspirada em mera curiosidade. A TVP não se enquadra nessa condição. Apenas procura identificar circunstâncias traumatizantes que originaram determinados estados patológicos, favorecendo a recuperação do paciente.
 4- Mas isso não seria indébita interferência no carma?
 Todas as disciplinas terapêuticas da medicina, inclusive a TVP, são recursos facultados pela misericórdia divina, atenuando os efeitos de nossas defecções no pretérito. As causas geradoras estão em nossas mazelas. Estas somente nós mesmos teremos condições de eliminar com o esforço em favor de nossa renovação.
 5- E quanto ao fato da TVP envolver riscos?
 Viver é um risco. Há pessoas que sofrem choques anafiláticos ingerindo uma aspirina. No entanto, ela tem beneficiado a milhões de indivíduos. Justamente pelos riscos que envolve, a TVP deve ser aplicada por profissionais habilitados.
 6- Poderíamos situar a TVP na área da ciência espírita?
 Penso que não devemos situá-la em área nenhuma da Doutrina, muito menos na área do Centro Espírita, a envolver confrades despreparados.
 Não obstante, a TVP trabalha em favor do Espiritismo, na medida em que familiariza o profissional com_ a reencarnação. Ele fatalmente acabará por admiti-Ia. É a única explicação lógica para os fenômenos de regressão que terá a oportunidade de observar, colocando-o em contato com vidas anteriores do paciente.
 "É preciso grande equilíbrio para podermos recordar, edificando."1
 GERALDO GOULART Publicado em "Reformador" FEB Julho, 1998 Recente reportagem veiculada na TV abordou problemas ocorridos no Exterior com pessoas que se entregaram a experimentadores no Trabalho de regressão de memória. De acordo com a matéria, alguns dos que se submeteram à regressão induzida não conseguiram voltar à lembrança da vida atual, como se estivessem prisioneiros das lembranças de vida anterior. Outros estacionaram na faixa etária infantil exprimindo linguagem e trejeitos de crianças de pouca idade.
 Não vamos, aqui, analisar a proficiência dos magnetizadores nem o risco a que se submetem os magnetizados que se aventuram nesse campo ou mesmo a propriedade de tal recurso. Isso porque é discutível o argumento que defende o uso da regressão de memória no campo da psiquiatria ainda que com finalidades terapêuticas.
 Na maioria dos casos conhecidos de regressão de memória, o pesquisado emerge do mergulho nos refolhos da consciência com a "descoberta" de que foi uni grande rei, príncipe ou senhor de muitos haveres, etc. Nenhuma referência a vidas humildes. Apenas as situações de destaque. Será afago ao ego de quem pagou pelo trabalho? Não sabemos.
 O esquecimento do passado é benção que faculta a imersão total em uma nova existência para os justos resgates, propiciando, com tal anestesia, a assunção das novas diretrizes retificadoras. Não é por acaso, conforme nos orienta a Doutrina Espírita, que um véu é interposto sobre a bagagem consciência do pretérito e a atual.
 Crendo na Sabedoria e Justiça do Sempiterno, não nos é lícito negar que se fosse de alguma utilidade a lembrança de uma ou mais existências anteriores, isso, de berço, ser-nos-ia facultado. Da mesma forma que não trazemos, presentemente, no campo da consciência, os registros das impressões passadas, também na desencarnação isso não ocorrerá de chofre, mas apenas de forma gradual e acorde com as necessidades do indivíduo. Por oportuno, lembramos que André Luiz (Espírito), questionava a Sra. Laura quanto às recordações do seu passado espiritual. O que causava estranheza a André era a constatação de que ele, já desencarnado, não acessava qualquer informação do seu pretérito. Incontido, perguntou: - "A senil ora recordou o passado, logo após sua vinda, ou esperou o concurso do tempo?" Ao que respondeu a matrona: " - Esperei-o (...); antes de tudo, é indispensável nos despojarmos das impressões físicas. As escamas da inferioridade são muito fortes. É preciso grande equilíbrio para poderemos recordar, edificando. Em geral, iodos temos erros clamorosos, nos ciclos da vida eterna. Quem lembra o crime cometido costuma considerar-se o mais desventurado do Universo; e quem recorda o crime de que foi vítima, considera-se em conta de infeliz, do mesmo modo. Portanto, somente a alma, muito segura de si, recebe tais atributos como realização espontânea. As demais são devidamente controladas no domínio das reminiscências, e, se tentam burlar esse dispositivo da lei, não raro tendem ao desequilíbrio e ã loucura.
 Allan Kardec, com sua capacidade de síntese, brindou aos estudiosos com o seguinte comentário:
 "Em vão se objeta que o esquecimento constitui obstáculo a que se possa aproveitar da experiência de vidas anteriores. Havendo Deus entendido de lançar um véu sobre o passado, é que há nisso vantagem. Com efeito, a lembrança traria gravíssimos inconvenientes. Poderia, em certos casos, humilhar-nos singularmente, ou, então, exaltar-nos o orgulho e, assim, entravar o nosso livre-arbítrio. Em todas as circunstâncias, acarretaria inevitável per turbação nas relações sociais.
 É provável que a geratriz desse comentário tenha sido a pergunta 392 de "O Livro dos Espíritos" (FEB) onde, à indagação: "-Por que perde o Espírito encarnado a lembrança do seu passado?" a Entidade comunicante responde:
 "Não pode o homem, nem deve, saber tudo. Deus assim o quer em sua sabedoria. Sem o véu que lhe oculta certas coisas, ficaria ofuscado, como quem, sem transição, saísse do escuro para o claro. Esquecido de seu passado ele é mais senhor de si" (Grifos do original.)
 Por todos os lados, as mais variadas mensagens prodigalizam-nos a oportunidade de desenvolver tão preciosa informação para o arrefecimento da curiosidade quanto às vidas passadas. Para quem não resista a esse impulso, indica Kardec uma possibilidade de se atingir o conhecimento. Basta consultar o parágrafo sexto do seu comentário à pergunta 399 da citada obra básica.
 Inferindo o pretérito pelo nível ou qualidade da condição atual, sem dificuldade se poderá entender por que Emmanuel nos adverte: "Faz-se mister olvidar o passado para que se alcance êxito na luta."
 Pelas informações de D. Laura a André Luiz verifica-se que a regressão de memória, no plano espiritual, só ocorre quando necessário; eqüivale dizer, quando de utilidade para o desencarnado.
 Gabriel Delanne lança mais luzes sobre o assunto comentando, tecnicamente: "Na acepção comum do vocábulo, a memória compreende, para toda a gente, três coisas, a saber: a conservação de certos estados, sua reprodução e sua localização no passado." (Destaques do Autor.)
 Mais além, praticamente explicitando a regressão de memória
 (...) a atenção redunda no aumento de capacidade motomuscular, ao passo que diminui o tempo de reação. Quando, voluntariamente, concentramos o pensamento numa coisa que desejamos recordar, enviamos na sua direção uma série de influxos sucessivos, que objetivam dar ao movimento perispirítico o mesmo período vibratório que ele tinha, pode dizer-se, um tanto mais fraco, no momento em que fora registrado, isto é, percebido. Essa repetência de excitação, provocando, por superatividade funcional, uma espécie de congestionamento do órgão material, produz, abaixo mesmo dos limites da consciência, uma espécie de atenção passiva. Depois de uma série de excitações da mesma intensidade, com exclusão das primeiras, naturalmente insensíveis, a recordação torna-se nítida, muito embora momentos antes a lembrança não existisse"6
 Queremos lembrar, ao final, que um dos maiores tormentos da criatura humana - a obsessão, mal insidioso e silente - via de regra deriva de atos obscuros, equivocados mas ainda reparáveis, cometidos no passado. O tratamento dos problemas pela única via possível, a espiritual, favorece a identificação das geratrizes que patrocinaram escabrosas perseguições no tempo. Daí concluirmos, com Hermínio C. Miranda: "O esquecimento proporcionado ao Espírito, na fase da reencarnação, é uma bênção, uma concessão, para que ele tente a reconstrução de si mesmo, como se estivesse momentaneamente desligado das suas culpas, embora ainda responsável por elas. Com a finalidade de conceder-lhe todas as oportunidades, e colocar à sua disposição os melhores instrumentos, o esquecimento do passado Constitui dádiva preciosa, que nem sempre ele sabe avaliar. Retornando, não obstante, à sua condição de Espírito desencarnado, pode ser- lhe facultado o acesso à memória integral, para que faça um inventário geral de seu acervo espiritual - as aflições que remanescem e as conquistas que já conseguiu realizar."
 Se os filtros do Espírito nos permitem atingir no campo das recordações tudo o que seja necessário a cada etapa, para que nos expormos a um sensível agravo à Lei submetendo-nos, magnetização, à regressão de memória? Esse será, sempre, um desafio inócuo.
 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. XAVIER, Francisco C. -- Nosso Lar. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1997, p. 117,cap.21. Idem.
3. KARDEC, Allan - O Evangelho Segundo o Espiritismo. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1997, p. 104, cap. V, item 11, 1pagrafo.
4. XAVIFR, F~cisco C., pelo Espirito Emmanuel - Emmanuel - Ed. Rio de Janeiro: 1997, p. 83, cap. XV.
5. DELANNE, Gabriel - A Evolução Anímica. 8-' ed. Rio de Janeiro: FEB, 1995, p. 136, cap. 11pt">
IV,A Memoria e as Personalidades Múliplas. s
6. Idem, ibidem, pp. 145-146.
7. MIRANDA, Hermínio C. -Diálogo com as Sombras, 10' ed. Rio de janeiro: FEB, 1997, p.253, cap. IV.

(fonte:CVDEE)

terça-feira, 30 de abril de 2013

Acontecerá: 8 Fòrum Espírita de Juiz de Fora

Mensagem Original:
 
Queridos,

a partir de hoje, dia 25/04, vocês já podem fazer suas inscricoes para o 8º Fórum Espírita de Juiz de Fora.

Vocês podem fazê-las na Casa Espírita (Rua Sampaio, 425) ou na Ame Livros (Rua Espírito Santo, 644) ou envie um email com seu nome e, se possível, telefone para contato.fejf@gmail.com

Lembramos que as inscricoes sao gratuitas.

Vamos responder a todos, aos poucos, confirmando as solicitacoes.

Muita luz a todos.
´
Equipe 8 Fórum Espírita de Juiz de Fora

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Revista Espírita: Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Discurso do encerramento do ano social 1858-1859

Julho de 1859
 
Senhores,
No momento em que se expira vosso ano social, permiti-me vos apresentar um breve resumo da marcha e dos trabalhos da Sociedade.
Conheceis sua origem: ela se formou sem desígnio premeditado, sem projeto preconcebido. Alguns amigos se reuniam em minha casa num pequeno grupo; pouco a pouco, esses amigos pediram minha permissão para me apresentarem seus amigos. Não havia então presidente: eram reuniões íntimas de oito a dez pessoas, como existem centenas delas em Paris e alhures; mas era natural que, em minha casa, eu tivesse a direção do que ali se fazia, seja como dono da casa, seja também em razão dos estudos especiais que. eu havia feito, e que me davam uma certa experiência da matéria.
O interesse que se tomava por essas reuniões, era crescente, embora não se ocupasse senão de coisas muito sérias; pouco a pouco, de um e de outro, o número dos assistentes aumentava, e meu modesto salão, muito pouco propício para uma assembléia, tomou-se insuficiente. Foi então que, alguns dentre vós, propuseram se procurasse um lugar mais cômodo, e se cotizarem para subvencionar os gastos, não achando justo que eu os suportasse sozinho, como fizera até aquele momento. Mas, para se reunir regularmente, além de um certo número, e no local estranho, era necessário conformar-se às prescrições legais, era necessário um regulamento, e, conseqüentemente, um presidente como titular; enfim, era necessário constituir uma sociedade; o que ocorreu com o consentimento da autoridade, cuja benevolência não nos faltou. Era necessário também imprimir aos trabalhos uma direção metódica e uniforme, e consentistes em me encarregar de continuar o que fazia em minha casa, em nossas reuniões particulares.
Trouxe para minhas funções, que posso dizer laboriosas, toda a exatidão e todo o devotamento de que era capaz; do ponto de vista administrativo, esforcei-me por manter, nas sessões, uma ordem rigorosa, e dar-lhe um caráter de gravidade, sem o qual o prestígio de assembléia séria teria logo desaparecido. Agora que minha tarefa terminou, e que o impulso foi dado, devo vos participar a resolução que tomei de renunciar, para o futuro, a toda espécie de função na Sociedade, mesmo a de diretor dos estudos; não ambiciono senão um título, o de simples membro titular, com o qual estarei sempre feliz e honrado. O motivo de minha determinação está na multiplicidade dos meus trabalhos, que aumentam todos os dias em razão da extensão das minhas relações, porque além daqueles que conheceis, preparo outros mais consideráveis, que exigem longos e laboriosos estudos, e não absorverão menos de dez anos; ora, os da Sociedade não deixam de tomar muito tempo, seja para a preparação, seja para a coordenação e a cópia correta. Por outro lado, eles reclamam uma assiduidade freqüentemente prejudicial às minhas ocupações pessoais, e que tomam indispensável a iniciativa, quase exclusiva, que me deixastes. Foi por causa disso, Senhores, que tive que tomar tão freqüentemente a palavra, lamentando a miúdo que os membros eminentemente esclarecidos que possuímos nos privassem de suas luzes. Já há muito tempo tinha o desejo de demitir-me de minhas funções; eu o expressei, de um modo muito explícito, em diversas circunstâncias, seja aqui, seja em particular a vários de meus colegas, e notadamente ao senhor Ledoyen. Tê-lo-ia feito mais cedo sem o temor de trazer perturbação à Sociedade, retirando-me ao meio do ano, podendo se crer em uma defecção; e não era necessário dar essa satisfação aos nossos adversários. Portanto, deveria cumprir minha tarefa até o fim; mas hoje, quando esses motivos não mais existem, apresso-me em vos participar a minha resolução, a fim de não entravar a escolha que fareis. É justo que cada um tenha sua parte de encargos e de honras.
Depois de um ano, a Sociedade viu crescer rapidamente sua importância; o número de membros titulares triplicou em alguns meses; tendes numerosos correspondentes nos dois continentes, e os auditores ultrapassariam o limite do possível se não se pusesse um freio pela estrita execução do regulamento. Contastes, entre estes últimos, as mais altas notabilidades sociais e mais de uma ilustração. O zelo que se toma em solicitar admissão em vossas sessões testemunha o interesse que se tem por elas, não obstante a ausência de toda experimentação destinada a satisfazer a curiosidade, e talvez mesmo em razão de sua simplicidade." Se todos não saem dela convencidos, o que seria pedir o impossível, as pessoas sérias, aquelas que não vêm com uma intenção de difamação, levam da gravidade dos vossos trabalhos uma impressão que as dispõem a aprofundar essas questões. De resto, não temos senão que aplaudir as restrições que colocamos para a admissão de ouvintes estranhos: evitamos assim a massa de curiosos importunes. A medida com a qual limitastes essa admissão a certas sessões, reservando as outras unicamente para os membros da Sociedade, resultou por vos dar maior liberdade nos estudos, que a presença de pessoas ainda não iniciadas e cujas simpatias não estão asseguradas, poderiam entravar.
Essas restrições parecerão muito naturais para aqueles que conhecem o objetivo da nossa instituição, e que sabem, antes de tudo, que somos uma Sociedade de estudos e de pesquisas, antes que uma arena de propaganda; por essa razão não admitimos, em nossas fileiras, aqueles que, não tendo as primeiras noções da ciência, nos fariam perder nosso tempo em demonstrações elementares, renovadas incessantemente. Sem dúvida, todos nós desejamos a propagação das idéias que professamos, porque as julgamos úteis, e cada um de nós nisso contribui com a sua parte; mas sabemos que convicção não se adquire senão por observações continuadas, e não por alguns fatos isolados, sem seqüência e sem raciocínio, contra os quais a incredulidade sempre pode levantar objeções. Um fato, dir-se-á, é sempre um fato; é um argumento sem réplica. Sem dúvida, quando ele não é nem contestado e nem contestável. Quando um fato sai do círculo das nossas idéias e dos nossos conhecimentos, à primeira vista parece impossível; quanto mais ele é extraordinário, mais objeções levanta, por isso é contestado; aquele que lhes sonda as causas, que se dá conta dele, encontra-lhe uma base, uma razão de ser; compreende-lhe a possibilidade, e, desde então, não o rejeita mais. Um fato, freqüentemente, não é inteligível senão pela sua ligação com outros fatos; tomado isoladamente, pode parecer estranho, incrível, absurdo mesmo; mas que seja um dos anéis da cadeia, que tenha uma base racional, que se possa explicá-lo, e toda a anomalia desaparece. Ora, para conceber esse encadeamento, para compreender esse conjunto ao qual se é conduzido de conseqüência em conseqüência,  é necessário em todas as coisas, e talvez ainda mais em Espiritismo, uma seqüência de observações racionais. O raciocínio, portanto, é um poderoso elemento de convicção, hoje mais que nunca, quando as idéias positivas nos levam a saber o por quê e o como de cada coisa.
Espanta-se com a persistente incredulidade, em matéria de Espiritismo, da parte de pessoas que viram, ao passo que outras, que nada viram, são crentes firmes; quer dizer que estes últimos são pessoas superficiais que aceitam, sem exame, tudo o que se lhes diz? Não; pelo contrário: os primeiros viram, mas mas não compreendem; os segundos não viram, mas compreendem, e não compreendem senão pelo raciocínio. O conjunto dos raciocínios sobre os quais se apóiam os fatos, constitui a ciência, ciência ainda muito imperfeita, é verdade, e da qual nenhum de nós pretende ver atingir o apogeu, mas, enfim, é uma ciência em seu início, e é na direção da pesquisa de tudo que pode ampliá-la e constituí-la que estão dirigidos vossos estudos. Eis o que importa se saiba bem fora desse recinto, a fim de que não se equivoque sobre os objetivos que nos propusemos; a fim de que não se creia, sobretudo, vindo aqui, encontrar uma exibição de Espíritos dando-se em espetáculos. A curiosidade tem um termo; quando está satisfeita, procura um novo objeto de distração; aquele que não se detém na superfície, que vê além do efeito material, encontra sempre alguma coisa para aprender; o raciocínio é para ele  uma  mina  inesgotável:  é sem  limite. Nossa linha de conduta, aliás, poderia ser melhor traçada pelas admiráveis palavras que o Espírito de São Luís nos dirigiu, e que não deveríamos jamais perder de vista: "Zombou-se das mesas girantes, não se zombará jamais da filosofia, da sabedoria e da caridade que brilham  nas comunicações sérias. Que alhures se veja, que em outro lugar se ouça, que entre vós se compreenda e se ame."