Ela estava dormindo com o inimigo, diz mãe de
ex-modelo morta em SP
Babila Teixeira Marcos foi assassinada no apartamento em que morava. Marido é o principal suspeito; ele segue internado após tentar se matar.
Paulo Toledo Piza
Do G1 SP
Do G1 SP
A mãe da ex-modelo Babila Teixeira Marcos, de 24
anos, morta com golpes de faca há dez dias no apartamento onde morava, na Zona
Sul de São Paulo, disse na tarde deste sábado (14) ao G1 que já
havia alertado a filha sobre o risco de viver sob o mesmo teto do marido.
Principal suspeito do crime, ele tentou se matar após esfaquear a mulher,
segundo a Polícia Civil.
“Tinha dito para ela: ‘Você está dormindo com o
inimigo’”, afirmou a comerciante Rosana Teixeira Marcos, de 49 anos. Ainda
abalada pela perda da única filha, a mulher lembra com tristeza do
relacionamento conturbado da jovem. “Ele não era ciumento: era possessivo”,
disse.
O namoro começou havia quatro anos e desde o
início os pais de Babila não gostaram do genro. A jovem, que desejava ser atriz,
largou o sonho e a carreira de modelo, se afastou dos amigos e do trabalho pelo
novo amor.
Contrariando a vontade dos pais, saiu da casa onde
vivia, em São Bernardo do Campo, no ABC, para morar na capital paulista com o
marido. O clima entre genro e sogros, que já não era bom, piorou cada vez mais.
Rosana e o marido, o também comerciante Alexandre Marcos, de 52 anos, não
frequentavam o lar da filha, e o marido dela não os visitava.
Quando a filha se encontrava com os pais, o
celular dela não parava de tocar. “De cinco em cinco minutos ele ligava,
querendo saber onde e com quem estava”, disse a mãe. Os atritos passaram a se
tornar mais constantes e, há pouco mais de dois anos, Babila foi ameaçada de
morte. Segundo Rosana, na ocasião sua filha ligou desesperada, dizendo que
estava trancada num banheiro porque o marido dizia que iria matá-la com um
revólver.
Os ânimos se esfriaram e mãe, filha, genro e
parentes dele foram parar no 35º Distrito Policial, no Jabaquara, na Zona Sul de
São Paulo. Nenhuma queixa foi dada, mas o relacionamento entre o casal acabou.
Temporariamente.
Retorno
A jovem voltou à casa dos pais, prestou vestibular
e entrou em uma faculdade de publicidade. Também conseguiu emprego como
vendedora. Meses depois, porém, o ex descobriu onde ela trabalhava e foi
procurá-la. Babila resolveu dar uma segunda chance. “Ela era muito boa. Não
enxergava o lado podre das pessoas.”
Os pais não gostaram da atitude da filha e
deixaram de conversar com ela. Pouco tempo depois, porém, a ex-modelo procurou
Rosana e Alexandre para contar que estava grávida. Eles decidiram, a
contragosto, mas em nome da criança, deixar as diferenças de lado.
O genro, segundo Rosana, aparentemente também
mudara bastante. “Ele estava bonzinho, mas sempre controlador.” Além de
afastá-la de amigos, ele controlava até as roupas que a jovem usava. “Ele a
tratava como um troféu”, acrescentou Alexandre.
Apesar da beleza, Babila havia abandonado de vez
as passarelas e passou a dedicar a vida à família. Comovidos, os pais dela
venderam a casa em que moravam, passando a viver de aluguel. Com parte do
dinheiro, abriram uma empresa de distribuição de água para a filha. Os galões
eram estocados nos fundos do comércio de pipas de propriedade do pai dela e onde
Rosana também trabalha.
O convívio diário aproximou as duas mulheres. Uma
semana antes de ser assassinada, a jovem procurou a mãe para desabafar. “Ela
contou que não sentia mais nada pelo marido e que iria se separar assim que o
filho fosse batizado. Mas não teve tempo para isso.”
Morte
Na tarde de 4 de julho, dia em que o Corinthians
enfrentou o Boca Juniors na final da Copa Libertadores, no estádio do Pacaembu,
Rosana e Alexandre insistiram para que a filha ficasse com eles no ABC. A filha,
porém, insistiu que tinha combinado ir a um churrasco com o marido na casa de
amigos deles. “Quando ela chegou, me passou um rádio. Dei recomendações de mãe,
coisa normal. Ela brincou e disse: ‘Ok, patroa’. Foram as últimas palavras que
ouvi dela.”
Amigos do casal disseram a Rosana que o suspeito e
sua mulher não brigaram durante o churrasco. A discussão que terminou no
assassinato ocorreu já na madrugada do dia seguinte, no apartamento deles, na
Rua Barrânia, no Jabaquara.
Segundo a polícia, o homem esfaqueou a ex-modelo
e, em seguida, tentou se matar. De acordo com a delegada Lisandreia Colabuono,
da 2ª Delegacia da Mulher, o irmão do autor do crime encontrou os dois. A modelo
já estava morta e o marido, inconsciente. Ele havia perdido muito sangue.
Segundo a Secretaria Municipal da Saúde, o suspeito permanecia neste sábado (14)
internado em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital
Doutor Arthur Ribeiro de Saboya, também na Zona Sul.
Foi descartada a possibilidade de participação do
irmão do suspeito no crime, segundo Lisandreia. Após ser liberado do hospital, o
homem deverá ser encaminhado para a carceragem do 26º Distrito Policial, no
Sacomã, também na Zona Sul de São Paulo, e responderá por homicídio
qualificado.
O filho do casal agora vive com os avós maternos.
Eles disseram já ter entrado na Justiça com o pedido de guarda do garoto. Por
enquanto, ele pergunta pouco pelos pais. No sábado, quando o menino viu o carro
de Babila sendo manobrado e disse “mamãe”, seu avô, com pesar, respondeu: “É a
vovó que está no carro. A mamãe está no céu”.
Agora, Rosana se esforça para realizar um sonho de
sua filha: a festa de aniversário de 2 anos do neto em um bufê infantil.
“Mexendo nas coisas dela, meu esposo encontrou, grudado na certidão de
nascimento do menino, algumas notas de dinheiro com um bilhete escrito: ‘Para o
bufê do meu filho’”, contou Rosana. “Minha filha era apenas uma comerciante e
dona de casa. Ela queria só ter uma pequena família feliz.”
André Henrique de Siqueira* comenta
"Aprendestes que foi dito: Amareis o vosso
próximo e odiareis os vossos inimigos. Eu, porém, vos digo: Amai os vossos
inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e
caluniam, a fim de serdes filhos do vosso Pai que está nos céus e que faz se
levante o Sol para os bons e para os maus e que chova sobre os justos e os
injustos. - Porque, se só amardes os que vos amam, qual será a vossa recompensa?
Não procedem assim também os publicanos? Se apenas os vossos irmãos saudardes,
que é o que com isso fazeis mais do que os outros? Não fazem outro tanto os
pagãos?" - Jesus (S. MATEUS, cap. V, vv. 43 a 47.)
Comentando este trecho do Evangelho de Mateus,
Allan Kardec faz a seguinte anotação em O Evangelho Segundo o
Espiritismo:
"Se o amor do próximo constitui o princípio da
caridade, amar os inimigos é a mais sublime aplicação desse princípio, porquanto
a posse de tal virtude representa uma das maiores vitórias alcançadas contra o
egoísmo e o orgulho.
Entretanto, há geralmente equívoco no tocante
ao sentido da palavra amar, neste passo. Não pretendeu Jesus, assim falando, que
cada um de nós tenha para com o seu inimigo a ternura que dispensa a um irmão ou
amigo. A ternura pressupõe confiança; ora, ninguém pode depositar confiança numa
pessoa, sabendo que esta lhe quer mal; ninguém pode ter para com ela expansões
de amizade, sabendo-a capaz de abusar dessa atitude. Entre pessoas que
desconfiam umas das outras, não pode haver essas manifestações de simpatia que
existem entre as que comungam nas mesmas ideias. Enfim, ninguém pode sentir, em
estar com um inimigo, prazer igual ao que sente na companhia de um
amigo."
O amor aos inimigos não representa uma atitude de
displicência ou de acomodação perante o erro alheio. A vida é uma escola de
regeneração das almas e nela todos somos convidados ao reajustamento de nossas
condutas. O indivíduo que atenta contra a integridade do próximo estará
submetido à lei humana e divina como devedor a quem será cobrada a devida
reparação.
Contudo, não podemos confundir a Justiça com a
vingança e é imperioso considerar o perdão como instrumento de reconstrução de
nosso equilíbrio moral. Mesmo os nossos inimigos, diante da história imortal na
qual estamos inseridos como Espíritos, um dia se transformarão em irmãos
equilibrados e maduros a quem deveremos respeito e consideração. Figuremos uma
criança que durante a fase de bebê tivesse urinado na roupa vistosa de um dos
desavisados tios... Seria justo que o tio guardasse eterna mágoa do bebê? A
consciência de que o bebê não está de posse de toda a sua maturidade levaria
naturalmente a vítima do atentado a uma atitude de perdão. Assim seremos diante
de nossos inimigos quando a maturidade moral lhes alcançar os Espíritos em
desenvolvimento. O exercício do perdão é, ao mesmo tempo, uma forma de
libertação da alma que sofreu a fustigação alheia. O perdão é atitude de higiene
mental que nos livra dos resíduos malfazejos disseminados pelo outro. Mas
evitemos contaminar a água da vida com o sentimento de remorso...
Se pudermos evitar, pela previdência, oração e
vigilância, que o mal nos acolha, evitemos aqueles a quem não podemos dedicar a
nossa atenção com confiança... Mas se o mal alheio nos alcançou nas lides do
caminho, saibamos perdoar para que nosso coração se liberte e entreguemos o
malfeitor para a justiça humana ou divina, na expectativa de que o futuro lhe
traga o amadurecimento e, um dia, nos painéis da eternidade, estaremos reunidos
novamente para o acerto das dificuldades no tribunal eterno do amor.
* André Henrique de Siqueira é bacharel em ciência da computação,
professor e espírita.